A plataforma selecionou uma lista de produções que apresentam histórias de luta, afeto, memória e futuro em diferentes partes do mundo
‘Sementes - Mulheres Pretas No Poder’ (2020), de Éthel Oliveira e Julia Mariano
Neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, data dedicada à reflexão sobre a luta histórica da população negra no Brasil e à memória de Zumbi dos Palmares, a FILMICCA celebra a força, a diversidade e a amplitude das narrativas negras ao redor do mundo com uma seleção especial de dez produções que atravessam diferentes territórios, estéticas e experiências.
Da mobilização política registrada em ‘Sementes – Mulheres Pretas no Poder’ (2018) à fantasia documental do premiado ‘Liyana’ (2017), esta curadoria destaca obras que ampliam a compreensão sobre identidades negras e suas múltiplas formas de existir, criar e resistir.
A seleção reúne desde obras censuradas, como o potente ‘Babylon’ (1980), até clássicos impactantes como ‘Born in Flames’ (1983), além de encontros profundamente emocionantes, como o drama-documental brasileiro ‘Kevin’ (2021), e poesias visuais marcantes, como o curta-metragem sul-africano ‘O Paraíso Desce à Terra’ (2020).
Confira a lista completa:
SEMENTES - MULHERES PRETAS NO PODER (2020)
Éthel Oliveira, Júlia Mariano
Brasil
Documentário | 1h 40min
Com direção de Éthel Oliveira e Julia Mariano, ‘Sementes – Mulheres Pretas no Poder’ (2018) é um documentário contundente que registra o maior levante político protagonizado por mulheres negras no Brasil. Após o assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, o filme acompanha a mobilização que tomou todos os estados do país.
A obra segue de perto as campanhas e disputas eleitorais, no Rio de Janeiro, de Mônica Francisco, Rose Cipriano, Renata Souza, Jaqueline de Jesus, Tainá de Paula e Talíria Petrone, todas candidatas aos cargos de deputada estadual ou federal, destacando seus percursos, desafios e a potência de suas vozes na renovação do cenário político brasileiro.
Revelando novas possibilidades de atuação política e demonstrando como o luto coletivo pode se transformar em força, ação e resistência, a trajetória dessas mulheres ganhou projeção internacional. O documentário circulou por importantes festivais ao redor do mundo, como o International Film Festival Turkey (Istambul), o NY African Film Festival (Nova York), o Festival Internacional de Cine Comunitario Afro (Medellín, Colômbia) e o Greater Cleveland Urban Film Festival (Ohio), entre muitos outros, até chegar ao catálogo da FILMICCA.
BORN IN FLAMES (1983)
Lizzie Borden
Estados Unidos
Drama | 1h 21min
Protagonizado pelas atrizes Honey e Adele Bertei e dirigido por Lizzie Borden, ‘Born in Flames’ (1983) é uma obra provocativa e profundamente relevante que marcou o cinema independente ao abordar, de forma ousada, temas como sexismo e racismo. Após seu lançamento, o filme causou forte impacto no circuito internacional, conquistando, em 1983, o prêmio do Júri dos Leitores no Festival Internacional de Cinema de Berlim e o Grande Prêmio no Festival Internacional de Filmes de Mulheres de Créteil.
Na obra, Honey, que interpreta uma personagem homônima, é a apresentadora da Phoenix Radio, enquanto Isabel (Adele Bertei) comanda a Rádio Ragazza; ambas utilizam rádios piratas para expressar suas preocupações ao público. Após a misteriosa morte de Adelaide Norris (Jean Satterfield), uma mulher negra radical e fundadora do Exército das Mulheres, surge uma coalizão diversa de mulheres de diferentes etnias, classes e orientações sexuais, unidas pelo objetivo de derrubar o Sistema.
Preservado pelo Anthology Film Archives com a restauração financiada pela Hollywood Foreign Press Association e The Film Foundation, ‘Born in Flames’ (1983) explora temas como racismo, classismo, sexismo e heterossexismo em uma versão alternativa dos Estados Unidos sob uma democracia socialista. O título vem da música “Born in Flames”, da banda Red Krayola, lançada em 1980 e inspirada em um filme soviético mudo de 1929 com o mesmo nome. A canção aparece no filme e foi escrita pelo vocalista Mayo Thompson em colaboração com o grupo de arte conceitual Art & Language.
LIYANA (2017)
Amanda Kopp, Aaron Kopp
Essuatíni, Estados Unidos
Animação, Documentário | 1h 16min
Considerado “uma obra lírica, tão brilhante e cativante quanto comovente” pelo The Hollywood Reporter ‘Liyana’ (2017) é um premiado documentário dirigido e produzido por Aaron Kopp e Amanda Kopp, com produção executiva da vencedora do Emmy® Thandie Newton e produção do vencedor do Oscar® Daniel Junge.
Entre o documentário e a animação, ‘Liyana’ (2017) é uma história nascida da imaginação de cinco crianças órfãs no Reino de Essuatíni. O filme segue as crianças Zweli, Sibusiso, Phumlani, Mkhuleko e Nomcebo, enquanto colaboram para contar a história original de Liyana, uma personagem fictícia cuja juventude guarda semelhanças notáveis com as deles.
Após sua estreia no LA Film Festival em 2017, ‘Liyana’ (2017) foi lançado nos Estados Unidos em 10 de outubro de 2018, recebendo ampla aclamação da crítica. Dentre os 35 prêmios internacionais conquistado, o filme foi agraciado com o prêmio de Melhor Documentário no LAFF, se consolidando como uma das obras mais celebradas do circuito independente naquele ano.
BABYLON (1980)
Franco Rosso
Reino Unido
Drama | 1h 36min
Censurado por muitos anos até chegar ao catálogo da FILMICCA, ‘Babylon’ (1980), dirigido por Franco Rosso, é um retrato intenso e urgente da juventude negra britânica dos anos 80.
O filme acompanha Blue (Brinsley Forde, vocalista do grupo de reggae Aswad), um jovem operador de Sound System que sonha em vencer uma grande competição musical enquanto enfrenta a dura realidade de uma Grã-Bretanha marcada pelo racismo institucional, pela xenofobia cotidiana e pela violência da polícia e da Frente Nacional.
A obra foi banida nos Estados Unidos após sua estreia na Semaine de la Critique, em Cannes, no ano de 1980, por medo de que sua representação direta da tensão racial inflamasse debates internos, permanecendo por anos quase inacessível. Hoje, ressurgido em uma restauração belíssima, o longa é reconhecido como um marco do cinema britânico e um documento fundamental da cultura do Sound System no sul de Londres. Sua fotografia, sua energia sonora e seu olhar sem concessões fazem dele uma obra incômoda e indispensável.
Por seu trabalho em ‘Babylon’ (1980), Franco Rosso recebeu o prêmio de Cineasta Mais Promissor no Evening Standard British Film Awards de 1981.
BRANCO SAI, PRETO FICA (2015)
Adirley Queirós
Brasil
Ficção Científica, Drama, Documentário | 1h 36min
Dirigido por Adirley Queirós e protagonizado por Marquim do Tropa, ‘Branco Sai, Preto Fica’ (2015) é uma aclamada e hipnotizante obra afrofuturista brasileira que articula imaginação e crítica social contundente.
Mesclando elementos de ficção e documentário, o filme revisita um episódio violento ocorrido em um baile de black music na periferia de Brasília, quando tiros disparados pela polícia deixaram dois homens marcados para sempre. A narrativa ganha novos contornos com a chegada de um terceiro personagem vindo do futuro, cuja missão é investigar o caso e revelar como a repressão estatal molda, e viola, corpos e vidas negras.
‘Branco Sai, Preto Fica’ (2015), que também conta em seu elenco com Shokito, Dilmar Durães, DJ Jamaika e Gleide Firmino, foi aclamado pelo público e pela crítica, recebendo diversos prêmios, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator (Marquim da Tropa) no Festival de Brasília, onde fez sua estreia.
Posteriormente, o filme de Adirley Queirós passou por outros festivais, como o Festival Internacional de Cinema de Vienna, na Áustria, o Festival Doclisboa, em Portugal, o Festival Internacional de Cinema de Mar Del Plata, na Argentina, e o Festival Internacional de Cinema de Cartagena, na Colômbia, onde o diretor venceu o prêmio Prêmio FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema) pela obra.
SUPA MODO (2018)
Likarion Wainaina
Quênia
Fantasia, Drama | 1h 15min
Dirigido pelo cineasta queniano Likarion Wainaina, “Supa Modo” (2018) é um drama tocante que combina fantasia, imaginação e emoção para retratar a força da comunidade diante da fragilidade da vida. Protagonizado pela talentosa jovem atriz Stycie Waweru, o filme conquistou público e crítica internacionalmente pela sensibilidade e humanidade com que aborda temas como infância, solidariedade e esperança.
Na obra, conhecemos Jo (Stycie Waweru), ela é uma menina espirituosa de 9 anos e com uma doença terminal. Ela volta para sua aldeia rural para viver o restante de sua curta vida. Seu único conforto durante esses tempos monótonos são seus sonhos de ser uma super-heroína, algo que sua rebelde irmã adolescente Mwix, a superprotetora mãe Kathryn e toda a vila de Maweni pensam que podem realizar para ela.
Desde sua primeira exibição, ‘Supa Modo’ (2018) venceu mais de 45 prêmios, entre eles prêmio Best Feature Film – Generation Kplus, no 67º Festival Internacional de Berlim, onde estreou e também foi agraciado com o Best Feature Film no Carrousel International du Film. Além dos prêmios Best Film – SCORE Bernhard Wicki Award e o AOK Film Award no Emden International Film Festival.
KEVIN (2021)
Joana Oliveira
Brasil, Uganda
Drama, Documentário | 1h 21min
‘Kevin’ (2021), dirigido por Joana Oliveira, acompanha o reencontro entre duas amigas que, após vinte anos distantes, voltam a compartilhar tempo, espaço e palavra: a própria diretora e a ugandense Kevin Adweko. Juntas, as duas criam uma obra que subverte as representações comuns do feminino no cinema, apostando na amizade, ao invés da rivalidade, como força transformadora.
No filme documental, Joana viaja de Belo Horizonte até Uganda para visitar Kevin, com quem estudou na Alemanha durante a juventude. A partir dessa reunião íntima e afetiva, o filme constrói uma narrativa delicada sobre amizade, memória e amadurecimento, entrelaçando histórias do passado, expectativas de futuro e diferentes modos de enfrentar os percursos da vida.
O que começa como uma visita simples logo revela camadas profundas de existência. Ao revisitar lembranças e partilhar inquietações sobre maternidade, envelhecimento, autonomia, saúde e as pressões sociais sobre o que significa “ser mulher”, Joana e Kevin expõem contrastes que atravessam suas experiências adequar-se às normas culturais ou romper com elas, corresponder às idealizações
A LENDA DA RAINHA SEM TERRA DE LAGOS (2024)
Bisola Akinmuyiwa, Temitope Ogungbamila, James Tayler, Mathew Cerf, Samuel Okechukwu, Elijah Atinkpo, Tina Edukpo
Nigéria, Alemanha
Drama | 1h 42min
Dirigido por um coletivo de cineastas formado por Bisola Akinmuyiwa, Temitope Ogungbamila, James Tayler, Mathew Cerf, Samuel Okechukwu, Elijah Atinkpo e Tina Edukpo, a cooprodução entre Nigéria e Alemanha ‘A Lenda da Rainha Sem Terra de Lagos’ (2024) acompanha Jawu (Temi Ami-Williams), uma mulher marcada pela herança de um guerreiro rei, mas que vive de forma humilde na comunidade flutuante de Agbojedo, às margens da lagoa que dá nome a Lagos, na Nigéria.
Atingida pela sorte improvável, Jawu acredita ter encontrado uma possível saída para romper o ciclo de precariedade em que vive. No entanto, o destino reserva desafios muito maiores do que ela imagina. Enquanto tenta proteger sua família e sua comunidade, ela percebe que seu caminho está entrelaçado a uma batalha maior por justiça e sobrevivência. Quando rumores sobre novos empreendimentos governamentais começam a ameaçar as casas da comunidade, Jawu testemunha um político corrupto enterrando um pé-de-meia repleto de dinheiro, um encontro que muda o curso de sua vida.
Representando a força silenciosa das mulheres que resistem às injustiças, ‘A Lenda da Rainha Sem Terra de Lagos’ (2024) combina drama social e elementos míticos para construir uma narrativa potente sobre poder e esperança em meio à desigualdade urbana da maior cidade da Nigéria.
LAAFI, TUDO ESTÁ BEM (1991)
S. Pierre Yameogo
Burkina Faso, Suíça
Drama | 1h 38min
Coprodução entre Burkina Faso e Suiça com direção do burquinense S. Pierre Yameogo, ‘Laafi, Tudo Está Bem ‘ (1991) acompanha a história de Joe, interpretado por Jacob Bamogo.
Na obra, Joe acabou de concluir o ensino médio e quer estudar medicina na França, mas para isso precisa se dirigir ao Ministério da Educação em Ouagadougou. Entretanto, segue-se uma série de processos administrativos, além do fato de que em Burkina Faso, como em qualquer outro lugar do mundo, são as conexões que colocam em movimento a máquina burocrática.
Exibido na Semana da Crítica no Festival de Cannes em 1991, o filme retrata tensões pós-coloniais ao comparar os espaços que ocupam um dos idiomas originários dos país e a língua europeia. Na vida cotidiana, o primeiro é hegemônico, enquanto em ambientes burocráticos o francês prevalece. Uma obra sobre amadurecimento que, embora realista em relação às dificuldades sociais do país, não perde seu bom humor e em muitos momentos privilegia mostrar o grupo de amigos se divertindo e imaginando suas expectativas de futuro.
O PARAÍSO DESCE À TERRA (2020)
Tebogo Malebogo
África do Sul
Drama | 11min
Dirigido pelo cineasta sul-africano Tebogo Malebogo, “O Paraíso Desce à Terra” (2020) é um poderoso curta-metragem contado através de uma grande poesia visual e uma narrativa ímpar.
A obra acompanha dois jovens homens negros sul-africanos, Tau (Thapelo Maropefela) e Tumelo (Sizo Mahlangu), que partem juntos numa caminhada por uma paisagem montanhosa isolada. Depois que Tau chega a uma conclusão sobre sua sexualidade, isso coloca em movimento uma cascata de pensamentos e emoções em Tumelo. Nada mais será o mesmo entre eles.
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Nos apps para Smart TVs Samsung, LG ou com Android/Google TV (Philco, Sony, TCL, AOC, Phillips, entre outras), Apple TV e Amazon Fire TV. Disponível também em tablets e smartphones com sistema Android e iOS. Apps compatíveis com Chromecast.
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SOBRE A FILMICCA
Fundada por Gracielly Pinto, a FILMICCA é um streaming nacional e independente de cinema autoral e cult, do clássico ao contemporâneo, com lançamentos semanais, incluindo obras inéditas, exclusivas e de grandes festivais. Com uma curadoria que valoriza filmes realizados por mulheres, histórias LGBTQIAPN+, narrativas negras, obras de novos cineastas e de grandes diretores do cinema mundial, a FILMICCA possui um vasto acervo com cerca de 500 títulos disponíveis, incluindo obras de importantes realizadores como Chantal Akerman, Kiyoshi Kurosawa, André Novais Oliveira, David Cronenberg, Mia Hansen-Løve, Miloš Forman, Víctor Erice, Djibril Diop Mambéty, entre outros.




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