Vencedor de
Melhor Direção no Festival do Rio, filme dirigido por Davi Pretto começa a ser
exibido em diversas cidades a partir deste Halloween
Nesta
quinta-feira de Halloween, 31 de outubro, o aguardado e premiado horror gaúcho
“Continente” chega ao circuito exibidor do país, incluindo cidades como São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, entre outras.
Vencedor de Melhor Direção no Festival do Rio pela categoria Novos Rumos, o
longa foi produzido pela Vulcana Cinema, com coprodução da Dublin Films,
Murillo Cine e Pasto, e tem distribuição assinada pela Vitrine Filmes.
Além de Davi
Pretto e de Paola Wink e Igor Verde, que assinam o roteiro ao lado do diretor,
grande parte da equipe e elenco também é de Porto Alegre. "Diferente de
‘Rifle’ e ‘Castanha’, onde trabalhei apenas com atores locais e atores não
profissionais, em Continente quis trabalhar com atores de fora do Rio Grande do
Sul para ressaltar a tensão de diferentes tons de estrangeirismos,
pertencimentos e heranças que o filme evoca. Há atores do Rio de Janeiro, São
Paulo, Argentina e da França. Porém, obviamente há também muitos atores e
atrizes gaúchos que formam a alma e força do vilarejo do filme. Muitos deles eu
nunca havia trabalhado antes e a marca que eles deixaram no filme me orgulha
muito. Silvia Duarte, Hayline Vitória, Anderson Vieira, Marcio Reolon, Cassio
Nascimento, Rodolfo Ruscheinsky, Luiz Paulo Vasconcellos e Sirmar Antunes”,
conta o diretor. “Sirmar veio a falecer alguns meses depois que filmamos. Soube
que nosso longa foi o último que ele fez. Me sinto muito honrado de ter podido
conhecer Sirmar e ter trabalhado e aprender com ele. Sirmar era perseverante e
incansável no set, tinha uma energia e presença magnética. Vi muitos da equipe
emocionados quando fizemos um close de Sirmar, em cena com sua filha no filme
interpretada por Ana Flavia Cavalcanti. O cinema gaúcho deve muito a
Sirmar."
"Continente" teve sua
estreia mundial em Munique e participou dos principais festivais de cinema de
gênero do México, Portugal e Itália. Também foi exibido na mostra competitiva
de Sitges, na Espanha, um dos maiores eventos audiovisuais de terror e fantasia
do mundo. O filme traz uma narrativa distópica que mescla drama e terror.
Depois de 15 anos fora do país, Amanda, interpretada por Olivia Torres, volta à
fazenda onde cresceu para reencontrar seu pai, que entrou em estado de coma,
sem esperanças de retorno à consciência. Com o apoio de seu namorado francês,
Martin (Corentin Fila), Amanda chega ao vilarejo remoto, no sul do Brasil, em
meio a uma crescente tensão entre os trabalhadores da terra. A única médica da
região, Helô, vivida por Ana Flavia Cavalcanti, faz o que pode para cuidar dos
moradores, mas quando o dono da fazenda vem a óbito, um antigo acordo entre o
povoado e o proprietário gera uma perturbadora reação coletiva da população.
O longa é uma
coprodução entre Brasil, França e Argentina, e contou com o apoio do Berlinale
World Cinema Fund, iniciativa da German Federal Cultural Foundation, em
parceria com o Festival Internacional de Berlim, para estimular a produção e
distribuição de filmes estrangeiros. O lançamento de “Continente” integra a
Carteira de Projetos da Vitrine Filmes, aprovada no Edital de Distribuição de
Produção Audiovisual da Lei Paulo Gustavo no Estado de São Paulo.
SINOPSE
Depois de 15 anos morando no exterior, Amanda
volta para casa com seu namorado francês Martin. Eles chegam à grande fazenda
de sua família, localizada em uma vila isolada nas planícies infinitas do sul
do Brasil. Lá, Amanda encontra seu pai em coma e uma tensão crescente entre os
trabalhadores. A única médica do vilarejo local é Helô, uma jovem que se
resigna a cuidar da população local. A morte iminente do dono da fazenda
colocará Amanda, Martin e Helô no centro de um perturbador acordo entre o
povoado e a fazenda.
Ficha Técnica:
Direção: Davi Pretto
Produtora: Vulcana Cinema
Coprodutoras: Dublin Films, Murillo Cine, Pasto
Coprodução: David Hurst, Cecilia Salim, Georgina Baisch Barbara Francisco
Distribuidora: Vitrine Filmes
Roteiro: Davi Pretto, Igor Verde, Paola Wink
Produção: Paola Wink, Jessica Luz
Direção de Fotografia: Luciana Baseggio
Montagem: Valeria Racioppi (SAE)
Direção de Arte: Bea Gerolin
Desenho de Som: Tiago Bello
Mixagem: Leandro de Loredo, Facundo Gómez
Som Direto: Marcos Lopes
Trilha Sonora: Rita Zart, Bruno Vargas, Carlos Ferreira
Elenco: Olivia Torres, Ana Flavia Cavalcanti, Corentin
Fila, Breno de Filippo, Silvia Duarte
DAVI PRETTO | Diretor
Davi Pretto (Porto Alegre, 1988) graduou-se em
Cinema na PUCRS em Porto Alegre em 2008. Aos 25 anos, estreou seu primeiro
longa-metragem “Castanha” no Festival de Berlim em 2014, na mostra Forum. O
filme competiu nos festivais de Edinburgh, Bafici, Hong Kong e Havana, além de
ter ganho o prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio, na mostra Novos Rumos.
Em 2017, Davi retornou ao Festival de Berlim para exibir seu segundo
longa-metragem “Rifle” também na mostra Forum. O filme venceu o Grande Prêmio
no Festival de Jeonju e os prêmios da Crítica e Melhor Roteiro no Festival de
Brasília. Em 2018, Pretto foi bolsista no DAAD Berlin Artists-in-Residence. Seu
terceiro longa-metragem “Continente” foi realizado em uma coprodução oficial
Brasil, França e Argentina, apoiada pelo Berlinale World Cinema Fund. O filme
estreou na competição Cine Rebels do 41º Festival de Munique em 2024.
Atualmente, trabalha na pós-produção de seu quarto longa-metragem “Futuro
Futuro”.
·
Quais foram os principais desafios na produção de Continente,
especialmente sendo uma coprodução entre Brasil, França e Argentina?
- "O desafio maior
ao fazer cinema independente de baixo orçamento, como sempre fiz, é
transformar as limitações do projeto em forças criativas. Que a ausência
se torne potência. Nesse caso, a coprodução foi o que fez o filme viável,
na verdade. Só com dinheiro brasileiro nunca faríamos o filme, ainda mais
em um período de um governo brasileiro que odiava a cultura. Felizmente,
este ex-presidente está inelegível atualmente, e espero que assim
permaneça. Porém, mesmo tendo esses três países envolvidos, e ainda
dinheiro da Alemanha, o orçamento que conseguimos captar era muito menos
que muitos filmes do centro do país. Foi um projeto muito desafiador, com
muitos efeitos visuais, filmado em um vilarejo remoto, de difícil acesso,
somado aos gastos de protocolos sanitários pós-pandemia. Foram dezenas de
litros de sangue falso, centenas de próteses de efeitos e cadáveres de
silicone que vieram da Argentina, equipamentos de câmera que vieram da
França, além de técnicos e atores destes países. Graças ao esforço dos
incansáveis produtores destes três países e de toda equipe e elenco
envolvida, esse filme ousado, sensorial e assombroso hoje existe."
·
O filme mistura elementos de drama e terror. O que o motivou a
explorar essa combinação de gêneros, e como você equilibrou esses elementos na
história de Continente?
"Essa mistura faz parte da minha cinefilia.
Do amor que tenho, por exemplo, tanto por 'Dawn of the Dead', do Romero, quanto
por 'Ordet', do Dreyer. Além disso, cineastas que mostraram que os limites do
gênero podem ser testados, ampliados e quebrados sempre me serviram de
inspiração. Cronenberg, Claire Denis, Kiyoshi Kurosawa... Isso está presente
também nos filmes anteriores que fiz, os fantasmas em 'Castanha' e o faroeste
em 'Rifle'. Em "Continente", o gênero não veio antes como uma regra
'vamos fazer um filme de gênero com tais elementos'. O horror e os elementos de
gênero do filme emergiram naturalmente ao longo da escrita do roteiro, como
ferramenta para traduzir as sensações e aflições da história que a gente queria
contar. Exatamente por isso, acho que o filme acaba sendo bastante particular e
ousado na maneira que opera dentro das expectativas e convenções do cinema de
horror."
·
O filme aborda questões de poder e tensão social no interior do
Brasil. Quais questões sociais contemporâneas você quis trazer à tona através
dessa narrativa?
"Para mim, tanto quanto para Igor Verde e
Paola Wink, que escreveram comigo o filme, essa era uma história sobre a
herança colonial brasileira que cria um sistema de violência, dominação e
subjugação entre pessoas. Um sistema que não só se repete, como se aperfeiçoa
ao longo do tempo. Um sistema que precisa produzir violência para seguir
existindo. O filme, claro, não busca dar respostas para esse sistema, porque
essa não é a função do cinema e da arte, ao meu ver, mas busca novas perguntas
para fazermos a nós mesmos, tanto quanto indivíduos e quanto nação. Uma delas,
é a qual a relação entre desejo e violência dentro desse sistema que herdamos e
que segue em operação. A outra pergunta é se conseguimos imaginar, ao menos
imaginar, uma alternativa a este sistema."