CineOP chega à 17ª edição discutindo produções indígenas, valor da memória e da preservação e as perspectivas de futuro para o audiovisual no Brasil


Evento acontece na cidade histórica de Ouro Preto e reúne profissionais do cinema, da educação e da preservação em sessões de filmes, debates, masterclasses e várias atividades, todas gratuitas; homenagem este ano será à dupla de realizadores indígenas M'bya Guarani: Kuaray (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), que estarão na abertura oficial e em encontros durante a 17ª CineOP

Prestes a completar 310 anos, o município mineiro que é Patrimônio Histórico da Humanidade volta a receber a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto em versão presencial, depois de dois anos de realização online por conta da pandemia de COVID-19. O evento acontece entre os dias 22 e 27 de junho e leva para a cidade a tradicional série de atrações do único festival de cinema brasileiro dedicado a tratar o audiovisual como patrimônio e a oferecer uma estrutura de programação focada em três eixos temático: preservação, história e educação.

Serão seis dias de programação intensa e gratuita com todas as manifestações da arte e o público podendo novamente assistir aos filmes na sala de cinema e na praça, participar de debates, masterclasses internacionais, rodas de conversas, oficinas, Mostrinha, sessões de cine-escola, lançamento de livros, exposição, atrações artísticas e várias outras atividades em dois espaços – Centro de Artes e Convenções e a Praça Tiradentes, sempre com entrada gratuita.

As equipes de curadoria propuseram a temática geral “Preservar, transformar, persistir”, que vai permear as ações ao longo de toda a mostra. Entre as ideias está a de dar visibilidade a produções realizadas por cineastas indígenas, seus processos de realização, seus tipos de cinema, memórias, cotidianos, desafios e aprendizados e a reforçar a importância da memória como perspectiva para o futuro e um desafio à preservação.

" A CineOP cumpre mais uma vez seu papel de atuar pela salvaguarda do imenso patrimônio audiovisual brasileiro e reafirma a importância de dar continuidade aos encontros anuais presenciais para fortalecer o setor audiovisual em diálogo com a educação e continuar florescendo para preservar nossa história, criar pontes e conexões, desvendar obras e talentos, olhares e diversidade em meio à multiplicação de telas e inovações interativas", destaca Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora da CineOP.

Clique aqui e leia mais sobre a temática “Preservar, transformar, persistir” na programação da 17a CineOP.

Serão exibidos 151 filmes em pré-estreias e mostras temáticas (20 longas, 14 médias e 117 curtas-metragens), vindos de 8 países (Brasil, Argentina, Bolívia, EUA, Israel, Peru, Rússia, Uruguai) e de 21 estados brasileiros (AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RR, RS, SC, SP) distribuídos em oito mostras - Contemporânea, Homenagem, Preservação, Histórica, Educação, Mostrinha e Cine-Escola.

Espaço referencial de discussões e definições de profissionais e educadores, a CineOP volta enfim a promover presencialmente o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: XIV Fórum da Rede Kino. Entre diversas atividades previstas, desde seminários, exibições de filmes, palestras e masterclasses intercionais, serão 23 debates e rodas de conversa, com a participação de mais de 80 profissionais nacionais e internacionais.

ABERTURA OFICIAL | HOMENAGEM

O evento oficial de abertura acontece na noite de 23 de junho (quinta), às 19h30, na Praça Tiradentes, com uma performance audiovisual apresentando as três temáticas de cada seção da CineOP (Histórica, Preservação e Educação) e homenageando os cineastas M’bya Guarani: Kuaray (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira) com a entrega do Troféu Vila Rica. O tributo deste ano surge a partir da forma como as questões culturais e políticas aparecem nos filmes de ambos, de naturezas distintas e pontuadas pela aproximação da urbanidade em relação às terras de seus povos. A dupla de realizadores é uma referência na produção dos povos indígenas, cada vez mais intensa e inserida em festivais e mostras de cinema. Para ilustrar suas obras, serão exibidos o média-metragem “Bicicletas de Nhanderú” (2011) e o curta-metragem “Nossos Espíritos Seguem Chegando - Nhe'e Kuery Jogueru Teri” (2021). A dupla estará no debate “Dois cineastas e um percurso” no dia 24 (sexta), às 12h, no Centro de Convenções de Ouro Preto, com as presenças ainda de Bruno Huyer (antropólogo), Ernesto de Carvalho (cineasta) e Sophia Pinheiro (cineasta).

TEMÁTICAS E FILMES

A partir da temática central “Preservar, transformar, persistir”, as curadorias da 17a CineOP desenvolveram verdadeiros trajetos de reflexão para debates e filmes a serem apresentados durante o evento. A questão do audiovisual produzido pelos povos indígenas surge diretamente em dois recortes. Na Temática Histórica,  o tema será “Emancipação, pluralidade e transbordamento nos cinemas indígenas do Brasil”.Nos últimos 15 anos, vivencia-se uma transição progressiva para a autocriação de filmes, sem interferências de não-indígenas na construção da estética e da linguagem, o que traz a percepção e recepção cada vez mais amplas das singularidades formais dessa produção.

Os filmes da Mostra Histórica fazem essa demonstração através de uma seleção panorâmica que vai desde “Já me Transformei em Imagem” (Zezinho Yube, 2008) a “Zawxiperkwer - Guardiões da Floresta” (Jocy Guajajara e Milson Guajajara, 2019), passando ainda por “Ka'a Zar Ukyze Uá - Os Donos da Floresta em Perigo” (Flay Guajajara, Erisvan Bone Guajajara, Edivan Guajajara, 2019), “Yvy Reñoi - Sementes da Terra”, (Associação Cultural de Realizadores Indígenas, 2017) e “Ava Yvy Vera - A Terra do Povo do Raio” (Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Johnaton Gomes, Joilson Brites, Johnn Nara Gomes, Sarah Brites, Dulcídio Gomes, Edna Ximenes, 2016), entre diversos outros com características similares: filmes realizados por indígenas, muitos deles por duplas ou coletivos maiores. Essa produção e seu impacto serão debatidos em vários debates ao longo da mostra, entre eles “Processos de criação de cineastas indígenas”, no qual os cineastas Alexandre Wera (Guarani M’bya), Genito Gomes (Guarani Kaiowá), Jocy Guajajara - (Guajajara) e Johnn Nara Gomes (Guarani Kaiowá) falarão de suas especificidades e as relações estabelecidas na equipe de profissionais não-indígenas.

A produção indígena também será central na Mostra Educação, que adotou o eixo “Cinemas e educações: diálogos”. A ideia é refletir que outras relações sãopossíveis encontrar entre a produção de povos originários e as educações – incluindo seus processos de formação e como são experimentados por diferentes povos. Uma das atividades será o cineasta Takumã Kuikuro selecionar um plano ou sequência de filme a ser comentado pela educadora e cineasta guarani Patrícia Ferreira (Pará Yxapy).

Na Mostra Preservação, o eixo será “Memória audiovisual no Brasil: resistência e resiliência no tempo”, a partir de aflições muito concretas e potencializadas no histórico problema da falta de políticas públicas de preservação audiovisual ao longo das décadas no país. A situação entrou em estado ainda mais grave com o impacto da pandemia de COVID-19 nos últimos dois anos e a derrocada da Cinemateca Brasileira desde 2016, somente agora em lenta reestruturação. Os assuntos serão diretamente tratados numa mesa que leva o nome da temática, no dia 24 (sexta), às 14h30, com as presenças de Maria Dora G. Mourão (diretora geral da Cinemateca Brasileira), Luiz Joaquim (gestor do Museu de Imagem e Som de Pernambuco) e Valquíria Salgado Quilici (coordenadora geral substituta do Centro Técnico de Audiovisual - CTAV, RJ).

A importância da preservação estará ainda no centro da conversa “Produzir e preservar imagens indígenas: um desafio urgente”, no dia 25 (sábado), às 14h30, reunindo Danilo Luiz Marques (coordenador geral do Núcleo de Estudos Afro Brasileiros e Indígenas– NEABI/UFAL), Fernanda Elisa (arqueóloga e gestora de riscos ao patrimônio cultural - CLAM Meio Ambiente, MG) e os cineastas Genito Gomes, Johnn Nara Gomes e Vincent Carelli.

A Preservação ainda promove o estudo de caso do documentário“História da Guerra Civil”, filme de 1921 de Dziga Viértov recentemente restaurado por Nikolai Izvolov, que contará detalhes do processo do longa centenário que terá exibição na CineOP com apresentação de Luis Labaki, cineasta e pesquisador especialista na obra de Viértov.

PRESENÇAS INTERNACIONAIS

Novamente a CineOP contará com a participação de importantes profissionais  internacionais para irão ministrar masterclasses e participarem de debates. Nesta edição, marcam presença: Miguel Hilari (Bolívia), cineasta que vai tratar de cinema aymara; Teresa Castillo (Peru), gestora cultural do projeto La Combi del Arte,  interface específica entre o cinema e línguas indígenas; a cineasta, fotógrafa e professora Aldana Loiseau (Humauaca/Jujuy, Argentina), que vai tratar do tema “A mãe terra e as tradições como protagonistas no fazer cinematográfico de animação”; Mela Marquez, diretora executiva da Cinemateca Boliviana; e, com apresentação on line, Perla Olivia Rodriguez, pesquisadora do Instituto de Investigaciones Bibliotecológicas y de la Información da Universidad Nacional Autónoma de México

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