TRÊS ANOS APÓS A TRAGÉDIA EM BRUMADINHO, ODE AO CHORO LEMBRA QUE RESPONSÁVEIS AINDA NÃO FORAM PUNIDOS

Em 25 de janeiro de 2019, uma tragédia de abateu sobre a cidade de Brumadinho (MG) com o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, sob responsabilidade da Vale S.A.. Mais de 250 vidas foram perdidas, além da imensa destruição ambiental. Até hoje, esse é um crime que segue impune. Entre as vítimas, estava a melhor amiga da cineasta Cecília Engels, Camila. Conhecida como Tatá, a jovem morreu junto com seu irmão, pai e madrasta. 

"Nesses três anos, percebo que já vivemos algumas fases. Logo no começo é o choque da perda, o luto, a busca por coisas que nos estimule a seguir em frente. Agora o que me desilude é a impunidade. Passo bastante tempo pensando e conversando sobre ela. A banalização de atos criminais contra a vida e contra o meio ambiente me provoca tamanha indignação! Não se pode explorar o minério a qualquer custo, o estado precisa ser rígido nos critérios de operação desta atividade. Os rompimentos de barragens são o ?auge? das tragédias, além disso no dia a dia, com menos visibilidade, as mineradoras estão contaminando rios, criando disputas de territórios, perseguindo ativistas", comenta a cineasta que realizou o documentário ODE AO CHORO, como uma maneira de conseguir lidar com seu luto. 

O filme, que faz parte 4a Mostra de Cinema Paulista, promovida pelo SESC, está disponível gratuitamente na plataforma SESC Digital até 26 de janeiro. No documentário, a diretora acompanha seu longo e doloroso processo de luto pela perda de seu grande amiga, que conhecia desde a infância. “Cada pedacinho da minha vida tem uma parte sua”, diz numa homenagem a Tatá. 

"Em 2019 quando rompe a barragem de Brumadinho e morre minha amiga Camila, minha vida vira de ponta cabeça. Eu fui entendendo que a arte seria meu canal de expressão para decantar, assimilar e, quem sabe, curar as feridas que esse luto estava deixando em mim. Foi aí que eu decidi embarcar numa jornada que eu chamei de ritual - ensaio - filme, eram encontros filmados com pessoas que me ajudassem a elaborar todos os sentimentos que eu estava vivenciando", explica a diretora. 

O documentário a acompanha durante o mês de outubro de 2019, quando ainda tomada por um luto com o qual tinha dificuldade de lidar, Engels procurou diversas tipos de terapias que a ajudariam a enfrentar aquele momento. No longa-metragem, define seu documentário como "uma maneira de esvaziar a racionalidade" para poder continuar com sua vida. 

De conversa ao canto, com resgate de sua trajetória e de Tatá, que tinha 33 anos quando morreu, ODE AO CHORO é também uma celebração da memória dos que partiram e da vida. Assim, com seu documentário, a diretora faz uma homenagem à amiga e aos anos de amizade, enquanto tenta aprender uma maneira de seguir em frente. "O que fazer em caso de tristeza pós-morte?”, pergunta, lembrando-nos de que nunca estamos preparados para nos separar dos que partem. 

Reencontrando cartas e fotografias dessa longa amizade, a documentarista busca uma maneira própria de expressar sua perda, uma vez que “palavras não encontram o tamanho da dor." Em busca de dimensionar essa dor, a diretora cria imagens de uma poesia melancólica que reverencia aquela amiga que era a primeira a quem procurava quando queria apresentar novas ideias criativas, e com quem partilhava tantos ideias e pensamentos em comum. 

ODE AO CHORO acentua também a impunidade no país, e seu lançamento cobra que a justiça seja feita, em nome daqueles e daquelas quer perderam sua vidas, entes e amigos e amigas. "O processo judicial sobre o crime da barragem do Córrego do Feijão precisa ter um desfecho pautado na justiça, com os devidos responsáveis sentenciados e as reparações às vítimas e ao meio ambiente condizentes com o tamanho do estrago." 

O filme conta com a participação de: Betina Turner, documentarista e terapeuta paliativista; Bianca Turner, vídeo mapping; Carol Pinzan, ritual relacional e performativo; Felipe Gomes Moreira, preparador vocal e cantor; Gustavo Vinagre, cineasta; e Tânia Piffer, ritual relacional e performativo. 

ODE AO CHORO está disponível em:

https://sesc.digital/conteudo/cinema-e-video/mostra-sesc-de-cinema/ode-ao-choro



ODE AO CHORO é um passeio pelo luto de Cecilia, diretora de cinema há 13 anos. Em 2019 ela viu sua vida virar de ponta cabeça quando, no rompimento da barragem de Brumadinho, sua melhor amiga morreu. Em busca da restauração de seu trauma, Cecilia se encontra com algumas pessoas que a estimulam a falar sobre a morte e o luto. Por um recorte autobiográfico, a diretora vira personagem da obra para falar sobre seus medos, sua fé e sua percepção da morte.

 

Ficha Técnica

Direção, roteiro e produção:  Cecilia Engels

Direção de Fotografia:  Thaisa Oliveira

Som Direto: Enrico Porro

Edição: Cecilia Engels e Daniela Gonçalves

Consultoria de edição: Fernando Solidad e Joana Ventura

Edição de Som e Mixagem: Helena Duarte

Correção de cor: Thaisa Oliveira

Designer gráfico e motion: Bruno Bayeux

Trilhas Instrumentais: Gustavo Raulino

Elenco: Bettina Turner, Bianca Turner, Carol Pinzan, Cecilia Engels, Felipe Gomes Moreira, Gustavo Vinagre, Tânia Piffer

Gênero: documentário

País: Brasil

Ano: 2021

Duração: 71 min.

 

Canção: Oceano - Bárbara Malavoglia

Trilhas: Brinquedo - Nei Zigma

Corredeira - Felipe Gomes Moreira

Sou Toda Ouvidos - Sandra Ximenez e Felipe Julián

Buselik taksim - Evgenios Voulgaris

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