Ambientado na Salvador de 1835, Malês retrata a maior insurreição de pessoas escravizadas da história do Brasil. Foto: Divulgação.
Entre os dias 4 e 10 de setembro, o CineSesc será palco de uma programação especial da 4ª edição da mostra OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros, iniciativa do Sesc São Paulo que celebra a força criativa e política do audiovisual negro. Durante esse período, o CineSesc exibirá 14 títulos selecionados para esta edição da mostra, entre ficções e documentários de diferentes regiões do Brasil – todos com ingressos a R$ 10. A mostra propõe um mergulho em narrativas que reinventam o país a partir da potência da negritude, com filmes que exploram temas como memória, identidade, resistência e ancestralidade.
A abertura, no dia 3, quarta-feira, às 20h, terá a pré-estreia do filme Suçuarana (2024), de Clarissa Campolina e Sérgio Borges. No enredo, uma mulher de espírito nômade busca seu espaço no mundo. Dora, a protagonista, vive há mais de 10 anos pelas estradas brasileiras em busca de Suçuarana, uma terra desconhecida e misteriosa que sua falecida mãe mencionava. Por uma região mineradora, Dora vaga na procura desse espaço e de trabalho. Sua jornada se complica quando, após um acidente, a mulher reencontra um cachorro que havia abandonado. Entre as dificuldades e os riscos desse movimento constante, ele a guia até uma aldeia afastada de trabalhadores fabris onde Dora encontra abrigo e consolo temporário.
Outro destaque da mostra é Malês (2024), de Antonio Pitanga. Ambientado na Salvador de 1835, o longa resgata a Revolta dos Malês, a maior insurreição de pessoas escravizadas da história do Brasil. Com atuação de Antônio Pitanga e seus filhos Rocco Pitanga e Camila Pitanga, a narrativa acompanha um casal de jovens muçulmanos arrancados de sua terra natal na África e vendidos como escravos no Brasil. Enquanto lutam para sobreviver e se reencontrar, ambos se envolvem no maior levante de escravizados da história do Brasil. A sessão será seguida de bate-papo com a equipe do filme.
Entre ficções e documentários, a mostra também traz retratos contemporâneos da juventude negra. Em Greice (2024), de Leonardo Mouramateus, acompanhamos uma jovem brasileira em Lisboa que, após um acidente, vê sua vida virar de ponta-cabeça e precisa encarar o retorno ao Brasil em busca de um lugar no mundo. Já em Kasa Branca (2024), de Luciano Vidigal, o foco recai sobre Dé, adolescente da Chatuba, no Rio de Janeiro, que enfrenta a iminência da perda da avó com Alzheimer, ao lado dos amigos que o ajudam a atravessar essa fase de descobertas e afetos.
Entre os documentários, Tijolo por Tijolo (2024), de Victoria Alvares e Quentin Delaroche, acompanha Cris, moradora do Ibura, em Recife, que enfrenta o desemprego, a perda da casa e a chegada de um quarto filho em meio à pandemia. Entre a luta por uma laqueadura e o trabalho como microinfluenciadora digital, Cris busca reconstruir sua vida e a de sua família.
O poder da negritude na música brasileira também é retratado em uma série de documentários. Em Brasiliana – o musical negro que apresentou o Brasil ao mundo (2024), o diretor Joel Zito Araújo recupera a história do espetáculo idealizado por Haroldo Costa, que entre as décadas de 1950 e 1960 levou a música, a dança e a cultura afro-brasileira para plateias de mais de 90 países, tendo como estrela a pioneira Mercedes Baptista.
O CineSesc também exibe Milton Bituca Nascimento (2025), de Flávia Moraes, documentário que acompanha a turnê de despedida do artista e mergulha na espiritualidade e na dimensão universal de sua obra. Já Luiz Melodia – No Coração do Brasil (2024), de Alessandra Dorgan, traz um retrato íntimo e poético da vida e obra do cantor e compositor, construído a partir de materiais raros e inéditos.
Os Afro-Sambas: O Brasil de Baden e Vinicius (2024), de Emílio Domingos, revisita a criação do clássico disco de 1966 e sua importância para a música brasileira. Filmado entre Salvador e Rio de Janeiro, o documentário reúne imagens de arquivo e entrevistas exclusivas com Maria Bethânia, Dori Caymmi, Russo Passapusso e Nelson Motta. O documentário 3 Obás de Xangô celebra a amizade e o legado cultural de Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, pilares da construção do imaginário baiano e da valorização das raízes afro-brasileiras.
As ações formativas gratuitas Cinema Revelado, com Chica Andrade, e O Processo de Construção do Documentário, com Emílio Domingos, oferecem ao público a oportunidade de mergulhar em duas trajetórias singulares do audiovisual brasileiro. Interessados podem se inscrever pelo aplicativo Credencial Sesc SP ou pelo site sescsp.org.br.
Enquanto Chica compartilha os bastidores e desafios de seu longa em produção House of Hilton, revelando estratégias criativas e pessoais para transformar obstáculos em potência narrativa, Emílio conduz os participantes por cada etapa da elaboração de um documentário, do surgimento da ideia às filmagens em campo, trazendo sua experiência em retratar culturas urbanas, juventudes e expressões artísticas. Juntas, as atividades aproximam diferentes olhares sobre o fazer documental, convidando à reflexão sobre formas de contar histórias e à valorização do processo criativo como espaço de experimentação e transformação.
Com o encerramento da mostra OJU, dá-se início ao Francos diálogos - Ciclo de cinema francófono e emergência socioambiental, com uma programação que é parte da Temporada França-Brasil 2025. Na sessão gratuita de abertura, na quarta, 10, será apresentado o documentário As Guardiãs do Planeta (2023), de Jean-Albert Lièvre, que acompanha a luta pela vida de uma baleia jubarte que encalha em uma costa remota.
PROGRAMAÇÃO DE 04/08 A 10/09
TIJOLO POR TIJOLO
Dir: Victoria Alvares e Quentin Delaroche, Brasil, 2024, 103 min, documentário, 12 anos
No Ibura, periferia de Recife, Cris tem a impressão de que tudo está por um fio. Ela e o marido perderam os empregos no início da pandemia de Covid-19 e a casa em que moravam com os três filhos pequenos por risco de desabamento. Grávida do quarto filho e em busca de uma laqueadura, ela trabalha como microinfluenciadora digital enquanto tenta reconstruir a casa e reestruturar a vida.
QUINTA, 04/09 às 14h
SÁBADO, 06/09 às 17H30
MALÊS
Dir: Antonio Pitanga, Brasil, 2024, 113 min, ficção, 14 anos
O filme retrata uma jornada de resistência e coragem, ambientada na vibrante Salvador de 1835. Durante seu casamento, dois jovens muçulmanos são arrancados de sua terra natal na África e vendidos como escravos no Brasil. Separados pelo destino cruel, ambos lutam para sobreviver e se reencontrar, enquanto se veem envolvidos na maior insurreição de escravizados da história do Brasil: a Revolta dos Malês.
QUINTA, 04/09 às 20h - sessão seguida de bate-papo com equipe do filme.
(Acessibilidade: libras, audiodescrição, legenda descritiva, Movie Reading)
KASA BRANCA
Dir: Luciano Vidigal, Brasil, 2024, 95 min, ficção, 16 anos
Dé é um adolescente negro da periferia da Chatuba, Rio de Janeiro, que recebe a notícia de que sua avó, Almerinda, está na fase terminal da doença de Alzheimer. Ele tem a ajuda de seus dois melhores amigos, Adrianim e Martins, para enfrentar o mundo e aproveitar os últimos dias de vida com ela.
SEXTA. 05/09 às 14h
BRASILIANA - O MUSICAL NEGRO QUE APRESENTOU O BRASIL AO MUNDO
Dir: Joel Zito Araújo, Brasil, 2024, 83 min, documentário, A16
Criado por Haroldo Costa em 1956, “Brasiliana” foi um musical brasileiro de repertório negro que rodou o mundo, passando por mais de 90 países entre as décadas de 1950 e 1960. Levando a música, a dança e a cultura afro-brasileiras para plateias internacionais numa época em que o Brasil ainda era sinônimo de “samba, futebol e mulher bonita”, o espetáculo ajudou a apresentar ao mundo uma imagem mais autêntica da cultura do país. Mercedes Baptista, pioneira da dança afro no Brasil e primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi uma de suas estrelas.
SEXTA, 05/09 às 20h
MILTON BITUCA NASCIMENTO
Dir: Flávia Moraes, Brasil, 2025, 110 min, 10 anos, documentário, 10 anos
Documentário que parte da turnê de despedida de Milton Nascimento, para entender a complexidade simples de sua obra, e os mistérios que ele carrega nos fazem refletir sobre a alma brasileira. O filme mostra a dimensão mundial de Milton, capta a comoção que ele provoca nos fãs, explora a forte carga espiritual de sua obra, e investiga as origens de sua musicalidade nas entranhas do Brasil profundo.
SÁBADO, 06/09 às 14h
SEGUNDA, 08/09 às 20h
(Acessibilidade: libras, audiodescrição, legenda descritiva, Movie Reading)
LUIZ MELODIA - NO CORAÇÃO DO BRASIL
Dir: Alessandra Dorgan, Brasil, 2024, 75min, documentário, 12 anos
Uma viagem sonora e visual, com materiais raros e inéditos de arquivo, que retrata a vida e obra do grande cantor e compositor brasileiro Luiz Melodia. O documentário musical é guiado pela própria voz do artista, que, ao abraçar sua liberdade e originalidade, desafiou muitas normas no mercado fonográfico e cultural brasileiro.
SÁBADO, 06/09 às 20h
SEGUNDA, 08/09 às 14h
(Acessibilidade: libras, audiodescrição, legenda descritiva, Movie Reading)
GREICE
Dir: Leonardo Mouramateus, Brasil, Portugal, 2024. 110min, ficção, 14 anos
Greice, uma jovem brasileira de 22 anos, estuda belas-artes em Lisboa. Nos primeiros dias do verão, Greice envolve-se com o misterioso Afonso. O casal é responsabilizado por um estranho acidente que ocorre na festa de recepção dos calouros. Greice precisa, então, voltar a Fortaleza, mas se esconde num hotel para evitar que sua mãe descubra os apuros em que se envolveu. Com a ajuda de alguns amigos, Greice procura um lugar no mundo.
TERÇA, 09/09 às 14h
OS AFRO-SAMBAS: O BRASIL DE BADEN E VINICIUS
Dir: Emílio Domingos, 2024, 93 min, documentário, A12
Lançado em 1966 por Vinicius de Moraes e Baden Powell, o disco Os Afro-Sambas é um dos mais cultuados do Brasil. Participantes da gravação original, críticos, amigos e familiares dos músicos revivem a criação dessa obra-prima. Filmado entre Salvador e Rio de Janeiro, o documentário reúne imagens de arquivo e entrevistas exclusivas com Maria Bethânia, Dori Caymmi, Russo Passapusso e Nelson Motta. Uma homenagem a um clássico que transformou a música brasileira.
TERÇA, 09/09 às 20h - sessão seguida de bate-papo com Emílio Domingos
AÇÕES FORMATIVAS
CINEMA REVELADO
Com Chica Andrade
“House of Hilton” é um filme biográfico que há 3 anos acompanha Erika Hilton, uma personagem polêmica que ocupa espaço no imaginário brasileiro. Nestes dois encontros, a autora propõe apresentar os processos, questionamentos e angústias que acompanham, bem como as estratégias adotadas ao longo do percurso para superar obstáculos.
Chica Andrade é diretora, produtora e roteirista. É showrunner do documentário Comida de Mentira; codiretora de Segura Essa Pose - série original Globo Play; documentarista latino-americana participante do American Film Showcase na universidade da Califórnia; palestrou no Marché du Film, durante o festival de Cannes 2025; é consultora em diversidade e inovação na Warner Bros Brasil e atualmente está finalizando o seu longa House Of Hilton.
DIAS 04 e 05/09, das 11h às 13h
O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO DOCUMENTÁRIO
Com Emílio Domingos
O diretor Emílio Domingos revela o processo de realização de alguns de seus documentários, partindo da ideia, passando pela pesquisa, argumento, roteiro e situações de filmagem.
Emílio Domingos é documentarista, antropólogo e roteirista. Membro da Academy of Motion Picture, Arts and Sciences (Oscar). Dirigiu Anos 90 - A Explosão do Pagode, Afro-Sambas - O Brasil de Baden e Vinicius; Dores do Mundo - Hyldon, Black Rio! Black Power!, sobre os bailes de soul dos anos 1970 no Rio e Chic Show sobre o famoso baile black de São Paulo; além de Favela é Moda, Deixa na Régua e A Batalha do Passinho. É graduado em Ciências Sociais pela UFRJ com ênfase em Antropologia Visual, Cultura Urbana e Juventude. Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cultura e Territorialidades da UFF.
DIAS 09 e 10/09, das 11h às 13h
3 OBÁS DE XANGÔ
Sérgio Machado, Brasil, 2025, 75’, documentário, 14 anos
“3 Obás de Xangô” gira em torno da amizade incondicional de Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, artistas que foram os maiores responsáveis pela criação de um imaginário de baianidade que persiste até os dias de hoje. Os três defendiam que a força de suas obras residia em documentar o que viam nas ruas: a resiliência do povo do candomblé, o poder das mulheres, a onipresença do mar. Os livros de Jorge, as canções de Caymmi e as pinturas e esculturas de Carybé consolidaram ‘um modo de estar no mundo’ dos baianos e influenciaram as gerações de artistas que vieram a partir deles.
DIAS 04, 05, 08 E 09/09 ÀS 18H
ABERTURA
FRANCOS DIÁLOGOS - CICLO DE CINEMA FRANCÓFONO E EMERGÊNCIA SOCIOAMBIENTAL
AS GUARDIÃS DO PLANETA
Jean-Albert Lièvre, França, 2023, 82min, documentário
Uma baleia jubarte encalha em uma costa remota. Durante a luta para salvar a sua vida, descobriremos a história destas criaturas extraordinárias, habitantes dos oceanos do mundo.
QUARTA, 10/09 às 20h. Sessão gratuita, antecedida de brinde
SERVIÇO:
CineSesc
Rua Augusta, 2075 | São Paulo
Central de atendimento: 13h15 às 21h30, todos os dias
Bilheteria online: sescsp.org.br/cinesesc
Ingressos
De 04/09 a 10/09 - R$ 10 todas as sessões
Outras datas:
Segunda a Quinta e mostras - R$24,00 (inteira) / R$12,00 (meia) / R$8,00 (credencial Sesc)
Sexta a Domingo - R$30,00 (inteira) / R$15,00 (meia) / R$10,00 (credencial Sesc)
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