É
inviolável a liberdade de consciência e de crença no Brasil, é o que diz o
artigo 5º da Constituição Federal. Na realidade, há um paradoxo entre a lei que
assegura o livre exercício dos cultos religiosos e o aumento esporádico da
perseguição religiosa no país. Cerca de 91% dos pais e mães de santo
afirmam já ter ouvido algum tipo de preconceito, enquanto mais de 78% declaram
ter sido alvos de violência, de acordo com a pesquisa feita pela Rede Nacional
de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro) e pela entidade Ilê Omolu Oxum.
Para refletir sobre o problema emergente, o documentário Tenho Fé, em cartaz
nos cinemas, destaca artistas que celebram os Orixás e a ancestralidade em suas
obras, mostrando como as religiões de matriz africana contribuíram na
construção do Brasil.
Selecionado
para a 47º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário de Rian
Córdova transita entre o sagrado e o ancestral, pondo em emergência cotidiana o
combate ao racismo e à intolerância religiosa através de uma linguagem direta e
simples. De antropólogos do carnaval até sacerdotes, as encruzilhadas
artísticas apresentam um amplo panorama da chamada “arte afro-brasileira”.
Participam no documentário, o historiador Luiz Antônio Simas, os carnavalescos
da GRES Grande Rio Leonardo Bora e Gabriel Haddad, a cantora Rita Benneditto, o
diretor Amir Haddad, o dramaturgo Rodrigo França, o autor de quadrinhos Hugo
Canuto, entre outros criadores e estudiosos.
A
narrativa passeia por palcos de teatros, shows, desfiles de moda, convenções de
quadrinhos e até festas populares, como as festas de São Jorge e Iemanjá. “O
filme é uma grande interseção de talentos artísticos. Nossas câmeras
acompanharam a jornada de artistas movidos pela fé nos orixás e pela
ancestralidade. Visitamos do desfile icônico de Exu da GRES Grande Rio até a
presença de Orixás como heróis em convenções de HQs, para entender a
importância da contribuição afro-brasileira na formação da identidade nacional.
O filme é sobretudo, um manifesto contra o racismo religioso.” - afirma o
diretor Rian Córdova.
“Como mulher de terreiro, preta e periférica digo: ´Sinto, logo sou!´. O filme, Tenho Fé, proporcionou a representatividade explícita de minha vida sagrada como sempre sonhei. Nós falando de, e, sobre nós. Motumbá!” – diz Conceição Gomes, Curadoria de Conteúdo. Tenho Fé está em cartaz nos cinemas de São Paulo, Manaus, São Luís, Curitiba e Palmas.
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