“É uma alegria muito grande ter dois filmes
no circuito nacional. Esses filmes foram gestados em um mundo pré-pandêmico e
foram concluídos durante a pandemia. Fico muito feliz de lançá-los agora nos
cinemas porque terminaram sendo represados por conta disso”, afirma Aïnouz. “Também
fico muito feliz com o lançamento conjunto, nesse momento em que estamos aos
poucos processando o trauma e a distopia a que fomos submetidos durante o
mandato da extrema-direita porque os longas falam de utopia e da capacidade de
sonhar mundos mais justos.”
Considerado o projeto mais pessoal de sua
carreira, MARINHEIRO
DAS MONTANHAS integrou a programação de importantes
festivais ao redor do mundo, incluindo uma aclamada passagem por Cannes, em
2021. O documentário narra a jornada do cineasta pela Argélia, onde investiga a
história do pai, um homem que só conheceu por fotografias, para compreender as
suas próprias origens. O longa-metragem terá pré-estreias pagas no dia 18 de
setembro, no Rio de Janeiro (Estação Net Gávea, às 21h), e no dia 19, em São
Paulo (Espaço Itaú Augusta, às 21h).
“É um filme íntimo, delicado e quase
experimental, espero que o público embarque nele de corpo e alma”, afirma Aïnouz, que está na fase final das filmagens de
“Motel Destino”, no Ceará, e se prepara para rodar o seu segundo longa
internacional, “Rosebushpruning”.
Exibido no Festival de Berlim, em 2020, NARDJES A.
foi filmado com um smartphone justamente durante a pré-produção do longa acima
citado, em uma viagem do diretor a Argel, capital do país africano. Nele, Karim
acompanha um dia na vida de uma ativista enquanto ela se junta aos milhares de
manifestantes que vão às ruas para derrubar o regime que os silenciou ao longo
de décadas.
“Eu queria que esse filme fosse ousado, alto,
barulhento, rápido e voraz, como as manifestações que invadiram as ruas de
Argel. Os protestos ressoaram para além da Argélia. Foi emocionante testemunhar
aqueles eventos que vinham carregados de uma força e alegria contagiantes. A
gente fala de uma geração que teve seu futuro roubado, mas ainda encontra na
esperança um lugar fértil para imaginar o amanhã. Pensando no nosso mundo hoje,
a Argel de 2019 está em todo lugar”, reflete o
diretor premiado na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, com “A Vida
Invisível”, em 2019.
Sobre MARINHEIRO DAS MONTANHAS
MARINHEIRO DAS MONTANHAS é um diário de bordo
realizado na primeira viagem do cineasta ao país de origem de seu pai, a
Argélia. O processo de conclusão do projeto se deu durante a pandemia, quando o
diretor se debruçou sobre o material filmado em janeiro de 2019, data da sua
travessia de barco pelo Mar Mediterrâneo até o país, antes de seguir até
Cordilheira do Atlas, no norte da nação africana.
“Com MARINHEIRO DAS MONTANHAS, eu quis correr o risco que a
maturidade e a experiência me permitem. Antes de tudo, um risco artístico ao me
distanciar do que sei, abrindo o projeto ao inesperado. O risco também de me
ver enfrentando minhas origens”, reflete Karim.
O documentário é todo narrado por Karim, em
forma de uma carta para a já falecida mãe, Iracema, que ocupa o lugar de uma
companheira imaginária de viagem. Enquanto relata e comenta episódios da
jornada, reativa memórias familiares e revela os muitos sentimentos
contraditórios que marcam o seu percurso.
Do susto no desembarque – quando, pela
primeira vez na vida, não precisou soletrar o nome – até a chegada na aldeia
onde seu pai nasceu e foi criado, o diretor expressa com honestidade as suas
impressões e descobertas na viagem ao país africano.
O longa é uma produção da VideoFilmes, com
coprodução da Globo Filmes, Globo News, em associação com MPM Film, Big Sister,
Watchmen e Cinema Inflamável, e distribuição da Gullane. MARINHEIRO DAS MONTANHAS
conta ainda com a colaboração do Projeto Paradiso, iniciativa filantrópica que,
através do programa Brasil no Mundo, apoiou a participação do filme na 74ª
edição do Festival de Cannes.
Sinopse
MARINHEIRO DAS MONTANHAS é um diário de viagem filmado na primeira ida de Karim
Aïnouz à Argélia, país em que seu pai nasceu. Entre registros da viagem,
filmagens caseiras, fotografias de família, arquivos históricos e trechos de
super-8, o longa opera uma costura fina entre a história de amor dos pais do
diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os
contrastes entre Cabília (região montanhosa no norte da Argélia) e Fortaleza,
cidade natal de Karim e de sua mãe, Iracema. Passado, presente e futuro se entrelaçam
em uma singular travessia.
Um filme de: Karim Aïnouz
Roteiro: Karim Aïnouz, Murilo Hauser
Direção de Fotografia: Juan Sarmiento
Produzido por: Walter Salles, João Moreira Salles, Maria Carlota Bruno
Produtores Associados: Marie-Pierre Macia, Claire Gadéa, Jihan al-Tajri, Jennifer Sabbah-Imaggine, Karim Aïnouz, Christopher Zittebart
Uma produção: Videofilmes
Em coprodução com: Globo Filmes e Globonews
Em associação com: MPM Film / Big Sister / Cinema Inflámavel
Karim Aïnouz realizou a produção de NARDJES A.
durante as manifestações que tomaram conta da vida política da Argélia, em
2019. Com um smartphone, o diretor faz um retrato íntimo de uma ativista que
luta por um futuro democrático no país. Em meio a crises globais, o
documentário simboliza o ardor das jovens gerações de 2020 que invadiram as
ruas exigindo tempos melhores em todo o mundo. NARDJES A. é uma coprodução entre Alemanha (Watchmen
Productions), França (MPM Film), Argélia (Show Guest Entertainment), Brasil
(Cinema Inflamável e Canal Brasil) e Qatar (Instituto de Cinema de Doha) e
distribuição da Gullane. Sinopse Nota do Diretor Argel estava eletrizada em torno de uma
atmosfera de luta e esperança. De repente, filmar NARDJES A.
surgiu como algo vital. Este é um filme urgente. O barulho das ruas e a
agitação da cidade ocupada por uma juventude febril me convenceram de que
durante aquelas 24 horas não havia nada mais importante a ser retratado:
Argel estava efervescente. Eu, que acabei aprendendo sobre a Revolução
da Argélia nos livros de história, muito embora tendo sempre nutrido uma
sensação estranha de familiaridade com o país, agora estava tendo a sensação
de testemunhar algo enorme: uma onda de manifestações que, por muitos meses,
ocupou toda sexta-feira as ruas da capital, reivindicando liberdade e
democracia. Há algo extremamente bonito e poderoso sobre como essas três
gerações se uniram naquele momento. Os jovens que se manifestavam
pacificamente nas ruas são netos daqueles que encaparam a revolução de
Independência nos anos 60. O que aconteceu? O que deu errado? O que deveria
ter sido diferente? Assim que
conhecemos Nardjes, à época com 26 anos, de alguma forma reconhecemos o
filme. A princípio o que me atraiu foi a possibilidade de através de sua vida
capturar uma visão mais subjetiva do que estava acontecendo. Filmar essas 24
horas ao seu lado foi a maneira como conseguimos nos aproximar do significado
do que estava acontecendo nas ruas. Não se tratava apenas da renúncia de um
presidente, mas de um silenciamento sistemático, de um encurtamento de
horizontes e de uma reverberação potente de todos os sentimentos profundos
que estão presentes nas ruas, agora condensados pelas demandas dos
manifestantes ocupavam essas mesmas ruas. Eu queria
que esse filme fosse ousado, alto, barulhento, rápido e voraz, como as
manifestações foram. As manifestações de Argel ressoam além da Argélia. Eles
falam de uma geração que teve seu futuro roubado, mas ainda encontra na
esperança um lugar fértil para imaginar o amanhã. Ficha Técnica |
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