As cidades, vibrantes em suas cores e arte, se tornam
figuras centrais em PELE,
documentário de Marcos Pimentel que chega aos cinemas em 26 de outubro, com
distribuição da Embaúba Filmes. A produção executiva é de Luana Melgaço e a
produção é assinada pela Tempero Filmes. O longa fez sua estreia mundial no
IDFA/Envision Competition, no qual foi premiado com a Menção Especial do
Júri, e no Brasil, foi exibido na Mostra Competitiva do É Tudo Verdade. Na
Rússia, recebeu o Grande Prêmio da Crítica no Festival Message to Man, em São
Petersburgo, e já foi exibido também na França, Canadá, Itália, China, Nova
Zelândia, Rússia, Indonésia, Áustria, Alemanha e Colômbia. O cineasta conta que o filme nasceu do seu
interesse pela experiência de se viver em cidades inchadas - cheias de
pessoas, conflitos e contradições - que temos no Brasil e na América Latina e
pela pulsão da arte urbana encontrada nelas. “Eu sempre gostei de caminhar pelas cidades prestando
atenção no que está presente nos muros, paredes e estruturas de concreto.
Incontáveis grafites, pichações, publicidades, letras, declarações de amor,
palavras de ordem, hieróglifos, mensagens políticas, palavrões... É possível
encontrar de tudo ali, numa caótica composição visual que diz muito do nosso
tempo e dos lugares que habitamos.” Morando em Belo Horizonte, ele explica que
começou a perceber ali mesmo as interações espontâneas que as pessoas têm com
a arte urbana. “Mesmo sem
nos darmos conta, a todo momento nossos corpos estão dialogando com os
conteúdos que ‘vestem’ os muros. Ali, nesta espécie de pele, os ‘habitantes
dos muros’ interagem com os ‘habitantes das cidades’, produzindo leituras
bastante interessantes que, infelizmente, nem sempre temos tempo de
contemplar.” O filme foi rodado em 2019, em Belo
Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, e filmar nas ruas, para Pimentel, foi
um desafio, mas também uma alegria. “A
rua é um ambiente que me encanta justamente pela falta de controle quando se
filma um documentário. Nunca é fácil, mas também poucos espaços são tão ricos
e prazerosos para um documentarista como as ruas das cidades. Não tínhamos
controle de nada e nunca nos propusemos a isso. Então, era um filme onde
precisávamos esperar muito e filmar pouco. Eram horas esperando até que
determinada situação acontecesse espontaneamente diante de algum grafite ou
pichação.” Como foi rodado sem captação de som direto,
o som de PELE
foi todo construído na pós-produção, por Vitor Coroa, que, além de reproduzir
o som do que se vê na tela, trouxe também várias camadas e possibilidades de
interpretação a partir do som de cada sequência. Assim, o documentário tenta
reproduzir a experiência urbana e a urgência dos discursos presentes nas ruas
do país também através do som, perseguindo uma atmosfera sonora que permite
uma outra experiência de cidade. Pimentel, que em sua filmografia tem longas
como “Fé e Fúria” e “Os Ossos da Saudade”, conta que trata grafites,
pichações e intervenções nos muros e paredes como gritos silenciosos emitidos
pelos habitantes de algum lugar. “As
narrativas urgentes das ruas estão sempre ali, estampadas nos muros, que são
encarados como espaços onde os artistas e os moradores das cidades podem
gritar para o mundo tudo o que pensam e também extravasar as muitas opressões
a que são submetidos no cotidiano. Fica tudo depositado ali, até as pessoas e
o tempo agirem sobre estes conteúdos, modificando-os uma vez mais.” Ele aponta que essa arte tem muito a dizer
sobre o tempo e o lugar onde vivemos. “No
filme PELE, nós articulamos esses elementos e
acabamos por narrar boa parte da história recente do país. Encontramos lá os
Jogos Olímpicos do Rio, a Copa do Mundo de 2014, o Passe Livre e os protestos
de junho de 2013, o golpe dado pelo Temer, a Lava Jato, a prisão do Lula, a
Vaza Jato, o Lula Livre, o #elenão, os muitos escândalos do governo
Bolsonaro, o Fora Bozo, o assassinato na Marielle, racismo, fascismo,
misoginia, intolerância religiosa, muitos protestos que ganharam as ruas ao
longo dos últimos anos... A história recente do país está narrada ali.” Parceiro do montador Ivan Morales Jr há 20
anos, Pimentel conta que a montagem era o desafio de se valer do material
filmado e o transformar numa narrativa sobre o Brasil contemporâneo. “PELE é um filme que não possui
entrevistas, narrador, voz em off... O filme todo é construído somente pelo
registro dos conteúdos dos muros, a observação entre a interação entre os
corpos que habitam a cidade e os grafites e pichações e algumas sequências de
intervenções artísticas pelo ambiente urbano. Portanto, a montagem foi
essencial para articular estes elementos e fazer surgir um filme a partir
deles.” PELE é um filme que, claramente, dialoga com as outras
obras de Pimentel, especialmente com “Polis”, “Urbe” e “Taba”, sem deixar de
lado a observação mais contemplativa de seus filmes, como “Sopro”, “A Parte
do Mundo Que Me Pertence” e “A Arquitetura do Corpo”. “Acho que em PELE
dei um passo a mais em
relação a estes trabalhos anteriores, caminhando na direção de algo que venho
perseguindo nos últimos tempos, que é conseguir equilibrar e alternar poesia
e política ao longo da construção da obra. Ando bastante instigado por filmes
que possuem camadas poéticas na construção de sua linguagem, mas que não se
dissociam da construção política do discurso. É uma obra na qual política e
poesia caminham de mãos dadas o tempo todo, fazendo com que o filme seja uma
experiência sensorial pelas ruas das cidades e pelas artes e intervenções
encontradas ao longo do caminho sem nunca perder de vista um discurso
político bem marcado, que está entrelaçado na construção de praticamente
todas as sequências do filme.” |
Sinopse Ficha Técnica |
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