Após concorrer ao Urso de Ouro na Competição Oficial do
Festival de Berlim com o longa "Todos os Mortos", em 2020, Caetano
Gotardo, premiado diretor de filmes como "O Que Se Move" e o curta
"Areia", apresenta sua nova obra: SEUS OSSOS E SEUS OLHOS,
que estreia nos cinemas no dia 22 de junho, com produção da Lira
Cinematográfica e distribuição da Descoloniza Filmes. A ideia para o longa surgiu em 2009,
enquanto Caetano finalizava o curta "O Menino Japonês". Na sala de
mixagem, o diretor e roteirista fez uma anotação sobre o deslocamento entre
som e imagem e a possível relação disso com a memória. Essa seria a gênese do
futuro longa sobre um jovem cineasta, interpretado pelo próprio Gotardo, que
vivencia diversos encontros com amigos, amigas e desconhecidos - e essas
interações acabam transformando sua vida e seu processo criativo. “A mim, interessavam pequenas questões do
cotidiano em torno de personagens que lidavam com processos de criação e que
se encontravam, tentavam se comunicar, falavam, ouviam, estabeleciam reais
trocas afetivas, observavam, se movimentavam, vivenciavam alguns aspectos da
cidade de São Paulo, falhavam, mostravam fraquezas, mas também se mantinham
em busca da construção de algo”, diz o
diretor, que também assina a montagem do filme. Depois de quase uma década entre pesquisas,
anotações e experimentos em vídeo (e também com a realização de vários outros
projetos no caminho), o roteiro de SEUS
OSSOS E SEUS OLHOS tomou forma em apenas três
dias, e foi filmado poucas semanas depois em apenas oito diárias, com uma
equipe de seis pessoas, além do elenco. “A Lara Lima, que produziu o filme, se
juntou ao projeto anos antes e acompanhou uma parte significativa do
processo. O longa só aconteceu de fato por causa dela, que, além de ser uma
interlocutora criativa muito importante, propôs e construiu o método de
produção com pouquíssimo dinheiro que foi o que utilizamos e que tornou a
realização possível da maneira como a queríamos fazer. A ela se somaram
outros colaboradores fundamentais, como Flora Dias na fotografia, o artista
plástico Gabriel Pessoto na direção de arte e Tales Manfrinato no som. Nosso
set era muito aberto ao que todos tinham a propor diante do roteiro. Sinto
que é possível realmente reconhecer aspectos da sensibilidade de cada pessoa
da equipe no resultado do filme." Protagonizar o longa, para Gotardo, está
ligado a uma pesquisa que parte de impulsos seus como roteirista, diretor e
ator na mesma medida. São coisas totalmente ligadas desde a origem do
projeto. “Neste filme, há
ainda uma pesquisa em torno do movimento que é muito central, que atravessa o
filme inteiro - e isso também estava presente desde o início, conversando com
pesquisas que faço em torno da dança.” O filme também inclui nomes como Malu
Galli, Vinícius Meloni, Carlos Escher, Larissa Siqueira e Carlota Joaquina.
Gotardo explica que o longa é muito centrado em suas atrizes e atores. “Tivemos muito pouco tempo de
preparação e poucos ensaios. Mas foram ensaios muito alimentadores. Convidei
pessoas com quem eu já tinha uma interlocução e cujo trabalho eu admirava
muito. E todos já conheciam também meus trabalhos. Então partimos muito
diretamente para discussões e experimentos em torno do filme e das cenas. Os
diálogos estavam todos escritos já. Mas trabalhamos muito a ideia do
encontro, do jogo que se cria entre essas personagens que se encontram. Qual
é a dinâmica entre elas? Quais os gestos? Os tempos? Os ritmos? Os silêncios?
Qual é o grau de intimidade? Quais os desconfortos?” No filme, a comunicação ou ausência desta
entre os personagens é uma questão bastante importante, assim como o
exercício de falar e de ouvir ativamente. “O
encontro nem sempre se dá, mesmo quando duas pessoas estão juntas no mesmo
espaço conversando. E, quando se dá, tem uma força evidente. De qualquer
maneira, cada uma das pessoas envolvidas percebe aquele encontro de uma forma
diferente - e, na memória, o momento ganhará ainda outras camadas de
incerteza e de invenção. Me interessava trabalhar isso também no filme. O
campo instável das percepções subjetivas." Apesar de filmado e exibido em festivais
antes da pandemia, SEUS
OSSOS E SEUS OLHOS ganha um novo sentido neste
momento de reencontros - muitas vezes, após anos de afastamento entre as
pessoas. “Creio que as
obras sempre se modificam com as mudanças do mundo, e ver o longa agora dá a
ele essa nova camada. A dramaturgia do filme depende completamente da
possibilidade de encontros presenciais. E também do acaso. Durante os
períodos de isolamento da pandemia, eu costumava pensar muito em como me
fazia falta o acaso - a gente só se encontrava, virtualmente, com quem se
escolhia encontrar.” |
Sinopse Ficha
Técnica Festivais |
Nenhum comentário:
Postar um comentário