URUBUS, dirigido por Claudio Borrelli, fez sua
estreia nacional na 45ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, acaba
de ganhar os prêmios de Melhor Filme Brasileiro Prêmio da Crítica e Melhor
Filme Brasileiro Prêmio do Público. Sobre o filme “Começamos
a conversar. Com o tempo a frequência dessas conversas foi aumentando,
e a desconfiança (que era uma característica marcante do Djan) foi se
transformando em amizade. Eu perguntei se ele conseguia colocar a história de
vida dele no papel, e ele me trouxe uma página na qual já existia uma
narrativa forte e emocionante. Então resolvemos comprar os direitos dessa
história, que ele depois transformou nas 96 páginas que serviram de
inspiração para URUBUS.” O filme tem como protagonista o jovem
Trinchas (Gustavo Garcez), que comanda um grupo de pichadores, cuja vida irá
se transformar ao conhecer Valéria (Bella Camero), estudante de arte, que
acaba de se mudar para São Paulo. Pouco depois, juntos, participam da invasão
da Bienal de Arte de São Paulo, onde os pichadores pretendem deixar sua arte
e sua marca. A partir desse ato polêmico, os jovens da periferia se tornam o
centro de uma discussão sobre o que é a arte. Borrelli, que tem longa experiência em
publicidade, conta que pretendia dar protagonismo a essas figuras urbanas, e
o longa consegue mostrar o ser humano que existe por trás do pichador. “A grande maioria da população odeia
a pichação e não enxerga o pichador – uma pessoa que vive, trabalha, luta e
sangra como as outras. É importante que o Brasil veja que esses são
adolescentes como os outros, fazendo uma arte de rua original, que não é
inspirada em nada, não ‘estava’ nas revistas, nas galerias e nos livros de
arte. E que é uma arte criada em São Paulo, tão Brasileira quanto o samba, e
ainda discriminada como o samba já foi.” A partir disso e do encontro com CRIPTA
Djan, nasce URUBUS.
O artista já registrava as ações dos pichadores em DVDs caseiros, aos quais
Borrelli teve acesso, e descobriu neles um novo mundo e serviu de base para o
longa. “Não poderia fazer
uma pesquisa melhor, porque os DVDs continham tudo: as roupas, a mistura das
tintas, as músicas, as festas e, o mais impressionante: as escaladas. Depois
que desenvolvemos o primeiro tratamento do roteiros, em 2010, fiz dois
pequenos documentários: um com o Djan, outro com a Caroline Pivetta. Isso só
para saciar a minha ansiedade de filmar, porque continuam inéditos e assim
permanecerão.” A participação de CRIPTA Djan no roteiro
foi fundamental, ressalta Borrelli. “Só
ele conhecia os personagens verdadeiros a fundo, já que foi totalmente
inspirado na vida dele. E, ao meu ver, toda a parte ficcional – o romance, o
fato de Valeria ser estudante de arte e não pichadora, a maneira que o Edu
morre, o atropelo do caderno no point e muito mais – só poderia existir
se criada por ele, ou transformada por ele, ou autorizada por ele. E
ele também deu uma grande ajuda na linguagem dos diálogos.” O
texto final é assinado pela dupla Mercedes Gameiro e Claudio Borrelli, em
parceria com Djan Ivson e colaboração de Vera Egito. CRIPTA Djan, por sua vez, conta que a
história que escreveu trazia elementos de ficção, mas calcados em sua própria
experiência. “Depois
disso, fiquei um ano trabalhando num texto já em formato de roteiro, com
diálogos e tudo. Eu vendi esse argumento para eles, e depois o Claudio me
convidou para fazer a 1a versão do roteiro. E, no final, fiz uma revisão”.
Ao todo, conta o artista, esse processo levou cerca de uma década. Para o elenco de URUBUS,
o diretor nunca considerou a ideia de trabalhar com atores profissionais, e
para preparar o elenco, contou com a experiência de Fátima Toledo. E o
resultado é um filme ficcional, mas com um quê de documental graças à
estética e às atuações. Como diz o diretor, a câmera serve à interpretação
dos atores e não o contrário. Borrelli sabia que aqui não cabia uma estética
cinematográfica muito construída. Principalmente na fotografia, já que o pixo
tem como característica a crueza. E foi no lado mais ficcional que o diretor
imprimiu sua marca. Para CRIPTA Djan, o longa sintetiza muito
bem o que é a pichação como movimento, a dinâmica do pixo na cidade e quem
são os pichadores. E ele ainda aponta que tudo foi feito de uma forma muito
legítima. O envolvimento do Claudio com ele e o movimento foi muito
importante porque o diretor passou a entender esse universo de perto. “Eu
vejo URUBUS como uma extensão de tudo o que
fiz sobre o pixo no cinema. Agora, de fato, esse é um trabalho artístico. O
filme é de extrema importância, não apenas para a pichação, mas também para o
cinema brasileiro. Acho que é uma grande contribuição. O filme é uma espécie
de ‘Cidade de Deus’ de São Paulo. Não tem nada que melhor retrate a cidade do
que a pichação. É uma cultura muito forte aqui”, conclui Djan. Exibidos em diversos festivais ao redor do
mundo, URUBUS coleciona prêmios,
como Melhor Filme e Atriz Coadjuvante (Bella Camero), no British Independent
Film Festival; Prêmio do Júri Narrative Feature Film, Fabrique Du Cinéma
Awards; LAIFF Winter Award – Winner, no Los Angeles Independent Film Festival
Awards; e Melhor diretor, no Manchester International Film Festival. |
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