PARQUE OESTE ESTREIA NA SALA MANIVA DIA 3 DE SETEMBRO

Parque Oeste, 

Brasil, 2019, 70' | Documentário

A partir desta sexta-feira, 3 de setembro, o documentário “Parque Oeste” pode ser alugado por R$19,90 na plataforma Sala Maniva (www.salamaniva.com). O aluguel é válido por 48h, a partir da confirmação do pagamento, e o filme ficará na plataforma por 30 dias. 

Dezesseis anos após a desocupação violenta imposta pela polícia no bairro Parque Oeste Industrial, na zona periférica de Goiânia, o novo filme de Fabiana Assis, reconta as memórias da protagonista Eronilde Nascimento, que tornou sua perda em vontade de fazer justiça para as mais de 3 mil famílias que perderam suas casas e familiares durante o episódio. O documentário "Parque Oeste", tem sua estreia garantida pela distribuidora Descoloniza Filmes e produtoras Violeta Filmes e Goyaz Filmes, nos cinemas e plataformas digitais a partir do dia 02 de setembro deste ano. 

Diante de uma série de registros arquivados do conflito,  que em 2005 resultou em  três mortos (segundo o governo), 16 feridos a bala e mais de 800 pessoas detidas, o filme é uma mescla de memórias visuais com imagens atuais. A resistência de Eronilde junto às famílias que conseguiram forças para seguir adiante e lutando, apesar de tudo, é um dos pontos mais marcantes da história narrada também pela protagonista.        

O documentário, que nasceu a partir do curta-metragem Real Conquista (2017), também da diretora, no entanto, não tem o objetivo de retratar unicamente a tragédia vivida por aquelas mais de 13 mil pessoas durante a remoção truculenta e covarde imposta pelo Estado. Com uma trama e linguagem intrigantes, o filme é um exemplo de como as formas de resistência emergem a partir de um contexto desigual e de regresso em relação ao direito de moradia sobre milhares de famílias no país, uma realidade recorrente no Brasil. 

O encontro de Fabiana Assis com Eronilde Nascimento tornou-se uma das mais fatídicas uniões do cinema brasileiro atualmente, não por destacar a perda como objeto central, mas sim por reiterar a luta de uma mulher que não acaba somente porque a opressão é estabelecida para quem não é contemplado pelas regalias de um governo imoral e sem escrúpulos. Desta maneira, "Parque Oeste" se consolida  como uma feliz conexão dessas duas mulheres em prol do direito de moradia, da memória dos que partiram lutando e principalmente, da esperança de tornar o cinema um ponto de discussão cada vez maior para essas narrativas emergentes.      

VISÃO DA DIRETORA: 

O bairro Real Conquista foi criado para abrigar as mais de três mil famílias que haviam sido removidas brutalmente pela polícia de uma área que ocuparam na região oeste da cidade, conhecida como Parque Oeste Industrial,  no ano de 2005. Essas famílias queriam fazer valer um direito garantido pela constituição brasileira: o  acesso à moradia.  Algumas delas não podiam mais pagar aluguel e outras nem mesmo imóveis de aluguel conseguiam ter e viviam em casas de parentes ou amigos. Ao chegarem ao terreno vazio montaram suas barracas de lona preta e assim viveram por meses até que o governador do estado à época autorizou e liberou empréstimos para que os ocupantes pudessem comprar material e construir casas de cimento e tijolos. Passadas as eleições municipais, as autoridades competentes além de não negociar com os proprietários a compra daquela terra para que as famílias obtivessem a posse das casas que haviam se endividado para construir, também  mandou a polícia para retirar à força as pessoas que resistiam em permanecer.

Essa ação violenta do estado por meio da sua polícia é considerada uma das maiores violações dos direitos humanos ocorrida na América Latina, a imagens do dia do confronto, registradas pelo jornalista americano Brad Will, mostram verdadeiras cenas de guerra. A polícia armada de um lado  atirando balas e bombas contra a população desarmada que apenas resistia pelo direito de permanecer em suas casas. É essa história, abafada pela mídia local e nacional e pelas autoridades, que o filme Parque Oeste (2018) resgata.

Ao chegar no Real Conquista  pela primeira vez me chamou a atenção a aridez do local, havia quase nenhuma árvore que fizesse sombra para conter o calor escaldante e seco de Goiânia. Era como se aquele bairro fosse o último da cidade, ao percorrê-lo até o limite o que se via era o gado das fazendas vizinhas que fazem divisa com o local. As casas, todas iguais e muito pequenas, pintadas em tons pastéis claros davam a impressão de que pouca vida habitava ali. Os telhados marrons da terra brilhavam sob o sol forte que os atingia.

O meu primeiro encontro no Real Conquista foi com Tião, acontece que, como nos lembra o teórico e documentarista francês Jean-Louis Comolli, "o movimento do mundo não se interrompe para que o documentarista possa lapidar seu sistema de escrita." Ante o real não temos o controle dos acontecimentos e os filmes documentários são atravessados pelo imponderável da vida. Assim, em um desses momentos imprevisíveis, Tião sofreu um AVC - acidente vascular cerebral - ficando incapacitado de falar e, por consequência,  eu perdia meu personagem.

Na busca/necessidade de fazer com que houvesse filme sobre um tema que se dissipava dia após dia da memória do povo da cidade é que acontece o encontro  com aquela que se tornaria a personagem central do filme, Eronilde Silva do Nascimento.

Esse encontro é fundador do filme Parque Oeste, primeiro porque ao conhecer Eronilde, sou impactada pela sua história e pelo fato de sermos duas mulheres que compartilham a mesma idade, mas vivências completamente distintas. Isso me levou ao exercício profundo de desconstrução das minhas próprias visões pré-concebidas sobre as pessoas que se dedicam à luta pela moradia. 

O que veio após o encontro com Eronilde foi o estabelecimento de uma relação de amizade e cumplicidade entre nós que persiste até os dias de hoje.  Foi a construção dessa relação que permitiu que o filme existisse. Permitiu porque Eronilde aceita (re)contar para mim a tragédia que viveu no Parque Oeste Industrial, a sua história que, é importante lembrar, já existia (e existe)  independente da realização do filme.

Conforme me aproximava mais de Eronilde pude ir percebendo a sua personalidade marcante e como as redes de relações no bairro foram constituídas por tramas  fortemente marcadas pelo feminino e, ainda, como depois da tragédia que tirou a vida do seu marido, Eronilde estabelece um outro tipo de relação com o mundo, passando a se dedicar integralmente à luta pelo direito à moradia e por um mundo de menos injustiças, se unindo a diversos outros movimentos sociais espalhados pelo país, levando a experiência adquirida em outros locais para o bairro Real Conquista e para outras ocupações que surgiram depois em Goiânia.

O Real Conquista não é como um bairro qualquer, ali as pessoas têm um sólido elo formado pela experiência conjunta do trauma vivido. Toda batalha diária em prol de melhorias para a comunidade é centrada na figura de Eronilde, ela é a liderança do bairro, responsável pela articulação das demandas junto às autoridades, foi assim que conseguiram, por exemplo, a construção de uma escola, de um centro de saúde e de uma praça pública para lazer dos moradores.

A maneira como a personagem se recusa ao lugar de vítima, como o de alguém  que aceita calada a violação de seus direitos, mas ao contrário, reivindica que o estado que assassinou seu marido pague pelo crime cometido, transforma a vida de Eronilde e também promove a guinada do filme após o nosso encontro. Ao me aprofundar no convívio com a personagem principal e com as outras mulheres entendo que essa, deveria ser uma história a ser contada a partir do ponto de vista feminino, já que as mulheres estiveram à frente do combate  por todo o tempo e, também pelo fato de que se tratava de um filme sobre uma mulher feito por outra mulher. 

Prêmios e exibições:

Visions of Resistance no Museum of the Moving Image, NY | 2020

Festival Brésil en Mouvements, Paris | 2019

Melhor filme da Mostra Olhos Livres da 22a Mostra de Cinema de Tiradentes, MG | 2019

Prêmio "Sequência" na 3a Mostra SESC de Cinema, Paraty | 2019

Menção honrosa na 8a Mostra Ecofalante de Cinema, São Paulo | 2019

Menção honrosa na 10a Semana de cinema, Rio de Janeiro | 2018

Parque Oeste, 

Brasil, 2019, 70' | Documentário


SINOPSE: Depois de ser vítima de violência do Estado, uma mulher reconstrói sua vida, transformando seu luto em luta.


FICHA TÉCNICA: 

DIREÇÃO

Fabiana Assis 

PRODUÇÃO

Goyaz Filmes & Violeta Filmes 

ROTEIRO

Fabiana Assis 

Eduardo Consonni & Rodrigo T. Marques 

FOTOGRAFIA

Leonardo Feliciano 

EDIÇÃO

Eduardo Consonni & Rodrigo T. Marques 


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