Há alguns anos atrás, filmes com
realidades distópicas e mundos destruídos por epidemias eram roteiros que
chamavam a atenção, mas e agora que o inimaginável se tornou real como será o
cinema pós pandêmico?
É evidente
que o Covid-19 alterou para sempre a forma como a sétima arte é produzida e
entregue. O avanço das plataformas streamings ganhou um passo gigantesco em
cima das clássicas salas de cinema, uma vez que os espectadores parecem ter
abraçado de vez a versão pandêmica de produção audiovisual, como exemplo o
longa Host. Gravado por videochamada, o filme de terror produzido por Rob
Savage, tem 57 minutos e surgiu justamente por conta do tédio do confinamento.
Savage convidou seus amigos para uma reunião on-line para checar um barulho no
sótão de sua casa, mas tudo se tratava de uma pegadinha que além de assustar a
todos, viralizou no Twitter.
A
questão é que o isolamento definitivamente alterou tudo, desde o comportamento
do consumidor até os modelos tradicionais de negócios. Antes os filmes eram
disponibilizados em sequências que rodavam a engrenagem de incentivo e lucro da
indústria, das telonas, à exclusividade de plataformas até canais
abertos. Obviamente, uma grande porcentagem deixou de faturar, já que
apenas no Brasil em 2020, os números apontam que 99% da população consumiu
conteúdo em vídeo, em telas e dispositivos como TV, redes sociais,
plataformas de streaming, lives e até videochamadas, segundo
estudo da Kantar IBOPE Media.
O
streaming pago apresentou um crescimento de 58%. A grande pergunta é, o que
esperar do cinema pós-pandêmico? Grandes estúdios como Warner Bros e Disney têm
aproveitado a oportunidade para testar produções originais com lançamentos
digitais. O momento pode se tornar um caminho de reinvenção para o cinema,
novos nomes podem surgir com técnicas bastante avançadas que já são utilizadas
há muito tempo, mas não ganhavam espaço na indústria cinematográfica por
diversos motivos.
Como
cineasta, eu trabalho com realidade virtual, parte do entretenimento que também
tem conquistado seu espaço desde o isolamento social, e é possível apresentar a
mesma imersão do cinema em telas de aparelhos celulares, por exemplo. Na minha
produção NanoEden, primeiro projeto de longa metragem em 3D, desenvolvi um novo
estilo de roteiro que não é dividido por cenas, mas sim por diferentes
quadrantes da esfera de 360 graus.
Focar
neste novo meio de comunicação como uso narrativo para contar histórias
ressalta que a pandemia também se tornou uma súplica para o valor acima do
lucro. Produções independentes, ou como no caso de Host com investimentos
menores, não significam anular blockbuster da Marvel, por exemplo. Estamos
falando de entregas múltiplas. Se o público enxerga qualidade, a indústria não
precisará se preocupar com lucro. O streaming é a prova disso, com ou sem
pandemia, as plataformas já eram um sucesso.
Sobre
o cineasta: O
cineasta brasileiro Daniel Bydlowski é membro do Directors Guild of America e
artista de realidade virtual. Faz parte do júri de festivais internacionais de
cinema e pesquisa temas relacionados às novas tecnologias de mídia, como a
realidade virtual e o future do cinema. Daniel também tenta conscientizar as
pessoas com questões sociais ligadas à saúde, educação e bullying nas escolas.
É mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor
faculdade de cinema dos Estados Unidos. Atualmente, cursa doutorado na
University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. Recentemente,
seu filme Bullies foi premiado em NewPort Beach como melhor curta infantil, no
Comic-Con recebeu 2 prêmios: melhor filme fantasia e prêmio especial do júri. O
Ticket for Success, também do cineasta, foi selecionado no Animamundi e ganhou
de melhor curta internacional pelo Moondance International Film Festival.
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