Nascido na cidade de Goiás, Siron Franco é, nas palavras da
crítica e historiadora de arte inglesa Dawn Ades, um dos mais importantes
pintores brasileiros de todos os tempos. O documentário SIRON. TEMPO SOBRE TELA, de
André Guerreio Lopes e Rodrigo Campos, estreia no dia 25 de março,
simultaneamente nos cinemas e nas plataformas de streaming, Belas Artes A La
Carte, Now, Vivo TV, Sky Play e Looke com distribuição da Pandora Filmes e
investiga a arte e a vida de Siron com imagens captadas ao longo de duas
décadas, combinadas com filmagens caseiras do próprio artista.
O documentário tem sua gênese em 2000, quando os diretores
eram estudantes em Londres, onde o goiano estava produzindo telas inspiradas no
bairro Soho. “O projeto
inicial era registrar esse processo de criação, a convite da produtora Malu
Campos e do Roberto Viana. E foi o que eu e Rodrigo fizemos obsessivamente,
filmando cada quadro da primeira à última pincelada, os caminhos e desvios do
processo criativo”, explica André, que define o filme como “uma tapeçaria do tempo”.
Ao longo dos anos, os diretores voltaram ao material
original, e viram que ali havia um registro único e importante do trabalho de
Siron. A ideia foi, além de captar novas imagens no ateliê, em Aparecida de
Goiânia, realizar entrevistas com Siron, e o levar a lugares de sua infância
registrando esse encontro. “Pouco
antes de começarmos a montagem, Siron nos disponibilizou seu acervo de vídeos,
material riquíssimo e inédito, cerca de 180 fitas VHS e Super-8 que ele filmou
ao longo da vida, trabalhando nos diversos ateliês, fazendo experimentos de
videoarte, viajando para a Europa e para o México nos anos 70 etc.”,
contra André.
Esse novo material abriu à dupla novas possibilidades, e
transformou a narrativa de SIRON. TEMPO SOBRE TELA, que
navega livremente entre os diversos tempos, sem obedecer a uma ordem
cronológica. Para construir o filme, os diretores contaram com a montagem de
Danilo do Valle. “Ele é um
grande montador, parceiro, capaz de uma entrega muito generosa ao processo, e
de encontrar e estabelecer associações muito criativas, fluidas, no material
disponível. Eu e André estivemos a todo o momento junto dele na ilha, não só
por conta do nosso estilo de direção, por adorarmos acompanhar todos os passos
da montagem, mas também porque tínhamos dividido a decupagem do acervo entre
nós dois, o que fazia nossa presença, com nossas anotações, muito importante na
descoberta dos caminhos de uma narrativa que brota do encontro das novas
filmagens com esse material de arquivo. Foi um roteiro de fato escrito na ilha,
num processo onde a fluência da montagem de Danilo assegurou as trilhas
narrativas que íamos abrindo”, explica Rodrigo.
Durante a produção do filme, André e Rodrigo fizeram uma
parceria forte, sem que houvesse qualquer espécie de divisão do trabalho. “Paramos para ouvir o outro a cada
momento de decisão, deixando que o caminho a ser seguido fosse determinado
pelas necessidades enxergadas pela confluência de nossos olhares sobre o filme,
o que só o enriqueceu. E conseguimos fazer isso com a agilidade exigida pelo
set e pela montagem”, conta Rodrigo. E o colega complementa: “Talvez o único momento em que
realmente nos dividimos foi para visionar as fitas VHS do acervo do Siron, cada
uma tinha cerca de duas horas, um trabalho hercúleo. Anotávamos tudo, minuto a
minuto, dividindo em temas, com observações e comentários pessoais, o que foi
fundamental para a construção da montagem”.
André e Rodrigo sabiam que tinham um grande desafio com SIRON. TEMPO SOBRE TELA: fazer
um documentário sobre um artista plástico em atividade e dono de um estilo bem
próprio. “Não foi uma
preocupação nossa que a estética do trabalho de Siron influenciasse o estilo do
filme, apesar de termos estado sempre conscientes de que isso se daria em
alguma medida, e naturalmente, ao longo de sua feitura”, explica
Rodrigo.
Para André, “não
se filma Siron impunemente”, e, com o filme, confessa que tentaram
“dar forma fílmica, da
nossa maneira, à mente criadora de Siron, ao fluxo ininterrupto de pensamentos
e ideias, as associações pictóricas, os tempos que se embaralham a cada quadro,
o eterno fazer e desfazer de imagens até se chegar à obra final.”
Já Rodrigo aponta que um dos objetivos do filme é “tornar os meandros do pensamento, da
personalidade e da arte desse grande criador brasileiro disponíveis para o
maior número possível de pessoas, o que se torna particularmente importante
neste momento atual, em que o desprezo das instituições oficiais e de uma
grande parte da elite econômica do Brasil pela arte só não é maior do que seu
desprezo pela vida em si mesma.”
Sinopse
“Eu lembro mais das coisas que pintei do que das coisas
que vivi”, diz, em certo ponto da abertura do filme, Siron Franco, 71, tido por
pensadores como Ferreira Gullar como um dos maiores pintores brasileiros de
todos os tempos. Encadeando pensamentos e memórias em associações
inusitadas e reveladoras, a dar foco ao tempo que brota da interação de um
arquivo pessoal inédito com novas filmagens, o documentário siron. tempo sobre tela ilumina a
personalidade inquieta e a mente criadora do artista, onde fronteiras entre
realidade, memória e sonho se dissolvem.
Ficha Técnica
Produção: Pacto
Filmes
Direção e roteiro: André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos
Produção Executiva: Malu Campos
Montagem: Danilo
do Valle
Assistência de Produção Executiva: Angélica Moura
Direção de Produção: Marcos Moura
Direção de Fotografia: Pablo Nóbrega
Som Direto: Enrico
Porro e Gustavo Canzian
Trilha Sonora Original: Gregory Sliva
Finalização de Imagem: Pablo Nóbrega (Dubcolor)
Designer Gráfico:
Carla Sarmento
Gênero:
documentário
Ano: 2019
Duração: 91 min.
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