| Filme dirigido por Joana
  Nin traz à tona uma questão polêmica da ilha, e estreia no dia 11 de março,
  em homenagem ao Dia da Mulher | 
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| Em sua primeira visita a Fernando de Noronha, a
  documentarista Joana Nin ficou intrigada com uma frase que ouviu: “Aqui é
  proibido nascer.” Ao investigar isso, descobriu que as grávidas são obrigadas
  a ir para Recife 12 semanas antes dos seus partos, que devem ser feitos na
  capital. Na ilha até existe hospital, mas que não realiza procedimentos
  obstetrícios há quase 20 anos. “Conversando
  com pessoas da comunidade, entendi que quem vive lá há muitos anos acredita
  que os nascimentos foram suspensos para evitar que estes bebês reivindiquem
  direitos no futuro. Como as terras são públicas, os terrenos não podem ser
  oficialmente vendidos. Eles são concedidos por meio de um Termo de Permissão
  de Uso – TPU, um documento muitíssimo cobiçado. E nativos tem direito a solicitar
  a inclusão de seu nome numa lista do programa de habitação local, em busca do
  mesmo espaço disputado por empresários do turismo.” É de uma indignação da própria diretora que
  nasceu PROIBIDO
  NASCER NO PARAÍSO, rodado entre 2017 e 2019 e acompanha três
  gestantes de famílias tradicionais da ilha, cujo desejo é dar à luz no local
  onde moram, perto de seus familiares. “O
  número de gestantes é pequeno para a abertura de uma maternidade, e nem todas
  as grávidas querem ficar. Mas não seria possível manter uma sala de parto –
  como existiu até 2004 - com atendimento obstétrico e uma emergência geral
  melhor aparelhada?”, questiona a diretora.  O longa acompanha o dia-a-dia de Ione,
  Harlene e Babalu, três gestantes cujas famílias vivem em Noronha há décadas,
  mas são obrigadas a se deslocar para o continente para realizarem seus
  partos. Joana conta que o tema é de interesse de todos os moradores e
  moradoras locais, e, por isso, todo mundo a ajudou muito trazendo-lhe
  informações. Para realizar o filme, ela também explica que foi preciso
  conhecer a ilha, suas peculiaridades administrativas. “Fernando de Noronha, um lugar
  dentro do Brasil com uma lógica própria, não é um município, é um distrito
  estadual de Pernambuco, o administrador é um cargo nomeado pelo governador,
  assim como todo pessoal de apoio. A única instância local com eleição
  democrática é o Conselho Distrital, que não tem função legislativa. A ilha
  até hoje funciona, de certa forma, como um presídio ou um quartel, a
  população é tutelada. Tudo é controlado pelo “Palácio”, como os moradores
  chamam a sede da administração na ilha. E assim é com a política
  habitacional, moradores permanentes – com mais de 10 anos de ilha – podem por
  o nome em uma lista e esperar pelo recebimento de um terreno, ou uma casa, já
  que oficialmente não há compra e venda de imóveis.” Em PROIBIDO
  NASCER NO PARAÍSO, a cineasta explicita como as mulheres
  perderam o poder sobre seus próprios corpos. A questão de Fernando de Noronha
  é reveladora nesse sentido. “A
  mulher sequer é considerada, parece ser propriedade de terceiros. Isso tem a
  ver com um movimento iniciado na década de 1940, quando a gestação passou a
  ser um tema médico, equiparado a uma doença, e não mais um assunto feminino
  familiar, como era até então.”  O filme a fez descobrir que “o desejo da mulher é ainda mais
  invisível do que me parecia antes. Nos tornamos transparentes no dia em que
  as outras pessoas tomam conhecimento de que temos um feto dentro de nós. Ele
  ainda não é um bebê, não tem vontade própria nem personalidade formada, não
  fala nem se expressa, mas nossa barriga passa a ser sempre o primeiro e o
  último foco do olhar de quem nos vê de fora.” As condições precárias do hospital local, o
  São Lucas, afetam não apenas as gestantes, mas também os turistas, pois a
  instituição não está preparada para qualquer intervenção que dependa de um
  centro cirúrgico, anestesista, banco de sangue, UTI ou qualquer outro tipo de
  atendimento para além do básico. “Isso
  faz sentido numa ilha de turismo aventura que fica a 1h ou mais de voo do
  continente? Não faz. Um local com arrecadação própria, inclusive. É preciso
  pensar melhor esta estrutura, e também em como acolher nativas que querem
  parir perto de casa, um desejo mais do que legítimo.” Por isso,
  Joana aponta que um dos objetivos do filme é “fazer o turista entender que a ele também faltará
  atendimento emergencial, caso precise. É triste pensar isso, mas visitantes
  tem muito mais poder de barganha do que as mulheres da comunidade.” Joana explica que a mentalidade local é de
  que as coisas “são assim porque são, e que não se pode mais mudar”, mas ela
  também crê que PROIBIDO
  NASCER NO PARAÍSO tem o poder de sensibilizar e transformar.
  “Realizar este filme me
  fez sentir na pele uma realidade levada ao extremo. Porque ali se consegue
  proibir de fato que mulheres escolham onde e como querem ter seus bebês. E
  isso foi institucionalizado, tornado permanente, pois já dura 17 anos, embora
  não exista nenhuma lei determinando nada disso. Como aceitar que nativas não
  possam ter filhos nativos? É revelador sobre o quanto ainda teremos que lutar
  para fazer valer nossos direitos, para ver respeitados nossos desejos. Espero
  que o filme contribua para essa reflexão e ajude, de alguma forma, em um
  processo de transformação desta realidade. Para que gestar e parir sejam atos
  mais respeitosos com as mulheres no futuro.” O lançamento de PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO foi planejado
  para acontecer na sequência de uma campanha de impacto, forma inovadora de
  estrear documentários já bastante popular em outros países, mas que
  no Brasil ainda é novidade. O trabalho consiste em construir uma rede de
  apoio capaz de potencializar a divulgação do filme e assim aumentar o alcance
  de público. Desde maio de 2020, a produtora Sambaqui Cultural vem realizando
  sessões fechadas online com públicos estratégicos ligados diretamente ao tema
  gravidez e parto, ou ao direito da mulher, sempre seguidas de debate com a
  diretora e equipe. Até o momento foram 12 parceiros mobilizados, como OAB
  Mulher, Grupo Curumim, Rehuna, Instituto Aurora, CLAM (Centro Latino
  Americano em Sexualidade e Direitos Humanos) entre outros, atingindo um
  público qualificado. Este trabalho tem foco na construção de um
  relacionamento empático com ativistas e pessoas engajadas com as causas do
  filme, antes de chegar às salas de cinema, o que ajuda na mobilização social
  para a ampliar o alcance da campanha de lançamento. Para saber como foi esse
  trabalho, acompanhe as redes sociais do filme listadas em https://linktr.ee/proibidonascernoparaiso.  PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO é uma produção da Sambaqui Cultural e será lançado no Brasil pela Boulevard Filmes. | 
 
 
 
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