Em 2023, a Cinemateca Brasileira organizou sua primeira edição da mostra itinerante A CINEMATECA É BRASILEIRA. A programação percorreu o país levando filmes que perpassam diferentes momentos históricos e propostas estéticas ao longo de mais de 120 anos de história. Uma seleção de 19 títulos foi exibida em 15 cidades de todas as regiões do país, inclusive em Brasília.
Diante do sucesso do projeto, a Cinemateca realiza a segunda edição de sua itinerância e retorna a Belo Horizonte, passando pelo Palácio das Artes - Cine Humberto Mauro, entre os dias 27 de maio e 1 de junho. Com o título A CINEMATECA É BRASILEIRA - RESISTÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS, a nova curadoria inclui longas e curtas-metragens que revelam múltiplas abordagens da vocação democrática do país e sua resistência a retrocessos autoritários, em especial o regime militar que teve início há 60 anos.
O projeto já exibiu, no ano passado, filmes em Campos dos Goytacazes (25 e 26 de setembro), Rio de Janeiro, dentro da programação do Festival do Rio (3 a 13 de outubro), Fortaleza (12 a 26 de outubro) e João Pessoa (13 a 22 de outubro). Em 2025, passou por Recife (23 a 29 de janeiro), Brasília (23 de janeiro a 12 de fevereiro) e Porto Alegre (20 de março a 2 de abril). Também estão confirmadas exibições em Belém, Porto Velho e Manaus.
“O Instituto Cultural Vale está ao lado da Cinemateca por entender a importância da casa da produção audiovisual brasileira, uma das maiores instituições do gênero no mundo, que preserva, também, um retrato da nossa própria identidade. Por isso, atuamos, juntos, em iniciativas pela sustentabilidade e modernização do espaço e pela salvaguarda de seu acervo, em especial, a coleção de filmes em nitrato de celulose, de valor inestimável”, diz Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, que é patrocinador estratégico da Cinemateca Brasileira.
As ações de itinerância fazem parte do Projeto Viva Cinemateca, lançado em 2023, que reúne os grandes projetos da Cinemateca voltados à recuperação de importantes acervos, além da modernização de sua sede e infraestrutura técnica.
"Apoiamos o Viva Cinemateca, pois acreditamos que a instituição tem um papel fundamental na construção, conservação e difusão da nossa herança cultural, com ações que promovem o desenvolvimento humano e geram valores para toda nossa sociedade. Juntos, preservamos o cinema nacional e as obras audiovisuais em geral, tão importantes para a preservação de nossa identidade”, comenta Glauco Paiva, gerente executivo de Comunicação e Responsabilidade Social da Shell Brasil, patrocinador estratégico do projeto Viva Cinemateca.
As ficções, documentários e animações selecionadas para RESISTÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS abordam direta e indiretamente os períodos de repressão tão recorrentes na história do país. Em O caso dos irmão Naves (1967), o cineasta Luiz Sergio Person se baseia em um caso real ocorrido em 1937, durante o Estado Novo, para retratar um dos piores erros jurídicos da história do Brasil.
Diversos episódios do governo militar são tema da maioria dos títulos. Inspirados no sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick, o nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, O que é isso, companheiro? (1997), de Bruno Barreto, e a animação, Meu tio José (2021), de Ducca Rios, expõem de maneiras diferentes as consequências dessa ação para negociar a libertação de presos políticos.
O esquema de financiamento da repressão violenta à luta armada é revelado em Cidadão Boilesen (2009), de Chaim Litewski. Essas estratégias e as torturas praticadas pela ditadura são evidentes na versão não censurada de Jardim de guerra(1968), de Neville d’Almeida, e nos importantes relatos presentes nos filmes Libertação de Inês Etienne Romeu (1979), de Norma Bengell, Torre (2017), de Nádia Mangolini, e Vala comum (1994), de João Godoy. Por sua vez, os horrores praticados contra os povos indígenas, ainda pouco conhecidos, são denunciados no filme Arara: Um filme sobre um filme sobrevivente (2017), de Lipe Canêdo.
Já a atmosfera de tensão e a mentalidade dessa época são contextualizadas nas entrelinhas do documentário de Arnaldo Jabor, A opinião pública (1966), na ironia de Pra frente Brasil (1982), de Roberto Farias, e no sensível O ano em que meus país saíram de férias (2006), de Cao Hamburguer.
A mostra oferece também alegorias políticas que examinam a complexidade das estruturas de poder e a opressão. Na fictícia nação latino-americana de Eldorado, Glauber Rocha reflete as tensões políticas, sociais e culturais da época em seu clássico Terra em transe(1967). Também ambientado em um país fictício na América Latina, o curta baseado no conto homônimo de Olney São Paulo, Manhã Cinzenta (1969), critica o autoritarismo com imagens impressionantes das manifestações de rua de 1968. Embora não seja uma metáfora direta contra a ditadura militar, Os fuzis (1964), de Ruy Guerra, trata de temas como opressão, desigualdade social e a relação entre o poder militar e as populações oprimidas.
Em homenagem aos 40 anos do filme, a curadoria inclui novamente Cabra marcado para morrer (1964-1984), cujas filmagens foram interrompidas em 1964 e retomadas dezessete anos depois para concluir a trajetória de seus personagens durante os longos anos do regime militar.
Cine Humberto Mauro
27 de maio a 1 de junho
Palácio das Artes: Av. Afonso Pena 1537 - Centro
Entrada gratuita
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