(Foto de
Viviane D'Avila)
Um dos maiores clássicos da literatura nacional, “Dom
Casmurro”, ganha uma nova leitura cinematográfica pelas mãos de Julio Bressane.
CAPITU E O CAPÍTULO
chega aos cinemas nesta quinta-feira, 27 de julho, dentro das seguintes praças:
São Paulo,
Rio de Janeiro,
Aracaju, Balneário Camboriú,
Belo Horizonte,
Brasília, Curitiba, Florianópolis,
Fortaleza,
Manaus, Porto Alegre,
Recife e Salvador.
A classificação indicativa é 14 anos.
Em CAPITU
E O CAPÍTULO, o diretor parte do que há de mais
cinematográfico em Machado de Assis, e, em suas palavras, “a trama machadiana, distorcida, é
transpassada por cenas, trechos, farrapos de filmes e texturas que se desdobram
em capítulos de uma ficção escondida, ainda não vista, que se desvela, e
recomeça em outro solo, em outro cosmos...”.
O título parte de um pequeno poema que
Haroldo de Campos declamou ao próprio Bressane, em 1984. “‘O importante no Dom Casmurro não é
a Capitu, mas o capítulo...’, disse-me. Capitu/Capítulo, este breve e lapidar
poema, logo que o ouvi pela primeira vez, fiquei enfeitiçado, possuído por sua
brevidade musical. Porém, naquele momento, não percebi, não alcancei, não
compreendi toda sua extensão... Extensão na qual o Capítulo é pathos, emoção
ultra acumulada, emoção extrema represada, escondida lá no fundo, oculta por
severa sombra, bloqueada, sem saída. Pathologico.”
No filme, Mariana assume o famoso papel de
Capitu, cujos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” seduzem o jovem Bentinho
(Vladimir), que, anos mais tarde, na maturidade, narra toda essa história,
assumindo o apelido de Casmurro (Enrique). O que era amor se tornou um ciúme
doentio, em devaneios do protagonista, que acabaram consumindo a paixão.
Bressane viu em Machado a possibilidade de o
transformar em filme, novamente, como já fizera com “Memórias Póstumas de Brás
Cubas", em 1985. “A
prosa capitular sugere a montagem cinematográfica. Os capítulos são retalhos de
outros capítulos, de outras ficções, de outros recomeços, traço apagado de um
perfil”, comenta sobre Dom Casmurro.
“Machado de Assis um inovador e inventor,
momento alto na língua portuguesa, escreveu no século XIX e início do século
XX. Viveu toda sua vida, sua existência, no Rio de Janeiro. Em um meio
importado, Machado chamava ‘cultura de empréstimo’, procurou fixar e expandir e
respirar, naquele solo hostil, a literatura (clube Rabelais) e a música (clube
Beethoven)”, complementa.
Com a fotografia assinada por Lucas Barbi
(“Os Primeiros Soldados”), o filme encontra na pintura um de seus principais
diálogos. “A pintura surge
no início do filme com o lendário perfil riscado a carvão por uma jovem
apaixonada da sombra do rosto de seu bem-amado projetada em um muro. É o
nascimento da pintura. O feminino faz seu voo pela pintura. Um delicado rosto
de mulher sobrevivente de uma parede de Pompeia, uma máscara descorada do
espanto vulcânico, um bosque francês antigo, desfile de quadros desconhecidos,
de pintores desconhecidos, de filmes desconhecidos, em enquadramentos
estratégicos, são o pigmento da trama, o infra-senso da montagem, a conversa de
olhares do ontem engomado na espessura do hoje.”
Nessas imagens, as flores, os arranjos de
flores, os vestidos de flores, as pinturas de flores surgem como um forte
elemento. “Seu cuidado e
delicadeza tem vida no drama que diante delas se desenvolve. As cores de suas
pétalas dramatizam a imagem, insinuam- se pela vida. Pela vida breve,
passageira, inconstante, de nossos baldios e ingratos sentimentos amorosos...
Nos arranjos florais a cor das pétalas mais constante, privilegiada, é a cor
roxa. Há no português falado no Brasil a expressão popular ‘roxo de ciúme’.”
A música, por sua vez, é outro elemento
importante em CAPITU
E O CAPÍTULO. “A
trilha é feita da contribuição dos sons provenientes do instante da gravação da
própria cena. Longos silêncios, pios de pássaros, passos, abalos sísmicos,
trovões, castanholas, gotejar da água, roçar do vento, rangidos de madeira
seca, o fervor das ondas revoltas do mar, a sonoridade de certas palavras, a
sonoridade de certas imagens, cordas da viola e do violino, o samba na voz
grave de Jamelão, toda essa colcha sonora de retalhos compõe a música do
filme.”
Entre outras coisas, o longa ressalta a
importância de Machado para a cultura brasileira, e o Brasil como um todo. “O genial escritor brasileiro, preto,
nascido pobre, marcado pelo temor da epilepsia, do implacável ataque
imprevisto, foi um escritor e leitor miraculoso. Leitor forte ele desborda,
ultrapassa, reescreve, recria, introduz uma música de beleza nova em uma planta
transplantada de outro chão”, conclui o cineasta.
CAPITU E O CAPÍTULO é uma produção da TB Produções e uma coprodução Globo
Filmes, distribuído pela Pandora Filmes. No FestCine Aruanda, o longa ganhou
diversos prêmios, entre eles, Melhor Filme, Direção e Prêmio da Associação
Brasileira de Críticos – Abraccine, e teve estreia mundial no Festival de
Roterdã.
Sinopse
Olhares, atitudes, vicissitude e
passionalidade, novas e antigas percepções. Trama que permeia a inquietude
trazida pelo sentimento mais primitivo que o ser humano pode experimentar,
criando e sorvendo o fantasma criado pelo ciúme, desdobrando-se em intrigas
capitulares criadas por Bentinho em devaneios que o tomam sobremaneira pelo
amor doentio por sua Capitu.
Ficha Técnica
Direção: Julio Bressane
Roteiro: Julio
Bressane, Rosa Dias
Produtores:
Tande Bressane, Bruno Safadi
Produtor Associado:
Cacá Diegues
Coprodutora:
Globo Filmes
Elenco: Mariana
Ximenes, Enrique Diaz, Vladimir Brichta, Djin Sganzerla, Saulo Rodrigues, Josie
Antello, Claudio Mendes
Direção de
Fotografia: Lucas Barbi
Direção de Arte: Isabela
Azevedo, Moa Batsow
Figurino: Daniela
Aparecida Gavaldão, Luísa Horta
Montagem: Rodrigo
Lima
Gênero:
drama
País:
Brasil
Ano:
2021
Classificação
Indicativa: 14 anos
Duração:
75 minutos
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