Filme que joga luz sobre almoços em família e a indústria calçadista, 'Espiral' é rodado em Novo Hamburgo (RS)

 

Histórias postas à mesa estão conectadas afetivamente ao polo industrial calçadista da cidade gaúcha, que investe no audiovisual como nova aposta econômica

Idealizado por Leonardo Peixoto, o filme Espiral, gravado em maio em Novo Hamburgo (RS), carrega uma série de marcos para a indústria do audiovisual brasileiro e para a cidade gaúcha historicamente conhecida como um dos principais pólos do mercado de calçados no Brasil. Estrelado pela atriz Manu Morelli, Gutto Szuster e Renata de Lélis, o filme tem previsão de lançamento para 2024, o filme tem financiamento da Prefeitura de Novo Hamburgo/RS em parceria com o Fundo Setorial do Audiovisual. 

Fruto de um edital lançado pelo município junto ao Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o título simboliza a aposta local na criação do Polo Audiovisual, como uma nova fonte econômica para a região. Além disso, Leonardo é o primeiro aluno de audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) a estrear como diretor de um longa-metragem a ser lançado nos cinemas, tornando-se uma referência para a geração de profissionais que vivem fora da capital gaúcha. 

"Espiral é um drama que conta a história de uma família hamburguense envolvida com a indústria calçadista da cidade. Ao longo do filme, é possível perceber como a trajetória de Novo Hamburgo e da família acabam se misturando. Desta conexão, tanto a família quanto a cidade vão precisar se renovando a cada ciclo”, resume o diretor.  

A ideia surgiu como curta-metragem que focalizava histórias produzidas a partir de almoços em família de um mesmo clã ao longo de anos, capturando o efeito das conversas à mesa nas reflexões de vida daqueles personagens. Ao inscrever a proposta no edital, o projeto ganhou corpo para se tornar um longa, agora ambientado no contexto de Novo Hamburgo. 

A mudança de rumo aconteceu sob uma aliança que uniu três produtoras gaúchas: a Convergência Produtora, de Leonardo Peixoto, a Bactéria Filmes, de Daniela Israel e Pedro de Lima Marques, e a Sala Filmes, de Freddy Paz, que formaram uma coprodução de peso para um grande projeto.

Para compor o novo formato, ao longo do filme, os almoços vão se repetindo e evidenciam a transformação daquela família em simultaneidade ao andamento da própria indústria local, da qual o clã é um dos representantes em Novo Hamburgo, endereço reconhecido pela arte de calçar pés.

“Vamos falar de repetição, o mesmo personagem aparece com idades diferentes na mesma cena. Por mais que falemos da indústria de calçados como pano de fundo, tudo isso se reflete nas relações familiares, no cotidiano de cada um. E as experiências de linguagem trazem esse debate pra tela”, afirma Leonardo Peixoto, diretor do filme. 

Da aprovação do edital até esse início de filmagens, os produtores atravessaram períodos difíceis para a indústria audiovisual no Brasil. Além da pandemia, houve um esvaziamento de políticas culturais, a ponto do edital de Novo Hamburgo ter sido único no país no momento em que foi aprovado, fruto de um esforço do município gaúcho. 

Daniela Israel, sócia da Bactéria Filmes, sublinha o vínculo criado com Novo Hamburgo desde que cursou a universidade local e concluiu seu doutorado, com o enredo do filme. “A história do ‘Espiral’, bate um pouco com a minha vida, não pela cidade sim, mas pela minha história materna. Venho de uma família que também começou a vida com a fabricação de sapato, couro, esse chão de fábrica. É um assunto muito afetuoso para mim. Conectar isso e trazer à tela é também contar uma história do meu passado”.  

A Convergência Produtora, Bactéria Filmes e Sala Filmes assinam ainda a produção de outros projetos em conjunto, entre eles, o curta “De Volta ao Jogo”, no qual Leo Peixoto divide a direção com Freddy Paz, e a série infantil “Quaquarela”, que tem criação e roteiro de Viviane Juguero e direção de Peixoto, que entram em gravação no segundo semestre de 2023. Para Daniela, “coprodução é como casamento, precisa de muita sintonia e confiança para crescer juntos. Estou muito feliz com o resultado dessa parceria que promete muito".

Os efeitos da indústria audiovisual em Novo Hamburgo projetam ainda impacto positivo no turismo e em todos os segmentos da cadeia que alimenta o setor, da costureira que produz os figurinos aos cozinheiros que alimentam a equipe de um set, passando por eletricistas e figurantes. 

“Tudo isso é resultado do esforço e da força de trabalho de uma equipe incansável na Secretaria de Cultura, o esforço de uma cidade que pretende se reinventar e tem na história dela mesma a característica do pioneirismo e a capacidade comunitária de agir”, diz Ralfe Cardoso, secretário Municipal de Cultura.

Parte desses esforços está também na distribuição de kits de filmagens em escolas públicas da cidade, especialmente na periferia, com câmeras, computadores e gravadores, e de políticas de formação cultural. “Vimos a necessidade de termos novas matrizes econômicas, sem querer com isso competir com a indústria calçadista, mas sim reencontrar essa identidade muito comunitária que temos. A prefeita Fátima Daudt enxerga que a cultura é mola mestra, é motriz, tem capacidade de articulação econômica”, conclui Cardoso, que pensa na relevância de Novo Hamburgo para o audiovisual não só no contexto gaúcho ou nacional, mas também latino-americano.

Para saber mais, acompanhe o Instagram de Espiral

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