Dirigido pela franco-argelina Mounia Meddour (“Papicha”),
DANÇANDO NO SILÊNCIO
é um filme que tem, ao centro, a dança, que, para além de uma manifestação
artística, é, também, uma maneira com a qual as personagens praticam a
sororidade e lidam com traumas. O longa chega aos cinemas em 4 de maio, com
lançamento da Pandora Filmes.
Houria (Lyna Khoudri) é uma jovem argelina
que sonha em ser bailarina. Ela trabalha como camareira durante o dia e se
envolve com apostas ilegais à noite. Até que ganha uma grande quantia e é
agredida por um homem. Quando acorda no hospital, seu corpo não é mais o mesmo
e sua ambição no balé deve ser esquecida. Mas, ao lado de outras mulheres também
traumatizadas, ela descobrirá como lidar com suas perdas e seguir em frente.
Meddour, que também assina o roteiro, explica
que a origem do filme está no seu desejo de explorar a sociedade argelina
contemporânea, tema constante em sua filmografia, e encontrou na personagem uma
maneira de acessar esse universo.
“Eu comecei no cinema fazendo documentário,
por isso, eu gosto de tirar de dentro de mim memórias e experiências para
transcrever em ficção no cinema. Após um acidente, com fratura dupla do
tornozelo, vivi uma longa reabilitação que me imobilizou por um tempo. Eu
queria contar sobre o isolamento, a solidão e deficiência. Mas, especialmente,
a reconstrução”, diz a diretora.
Ao colocar como protagonista uma jovem que
sonha em dançar, mas é imobilizada, a diretora pretende mostrar como no seu
país a liberdade individual – especialmente das mulheres – é limitada. “A dança ainda é praticada em lugares
privados, mas muito pouco ao ar livre. O corpo da mulher é um tabu. Uma mulher
que dança é uma mulher que quer se expressar. Não é inofensivo em uma sociedade
patriarcal e tradicional, com costumes e mecanismos de honra. Precisamos de uma
mudança de mentalidade, mas o caminho ainda é longo.”
Na linguagem corporal das personagens,
Meddour encontrou algo muito cinematográfico, cuja sua encenação enfatiza ao
privilegiar os corpos, os gestos, movimentos. Ela aponta que filmar uma dança é
algo bastante complexo, e sua opção foi filmar as dançarinas de forma livre,
dando a elas total liberdade de movimento.
“Gosto de filmar os meus personagens o mais
próximo possível dos corpos, da pele, do movimento. Na encenação deste filme,
questionei muito sobre como filmar a dança e que escolhas fazer. Quando você
filma dança, você tem que aceitar perder alguma coisa. Para mim, era
absolutamente necessário evitar a captura e privilegiar os corpos, os
movimentos, uma expressão, um olhar. Muitas vezes, em filmes de dança, a
coreografia é projetada para câmera ou recoreografada para encenação
cinematográfica. A coreografia é, portanto, a matéria-prima, não o roteiro.”
As coreografias do filme são assinadas por
Hajiba Fahmy, que já fez parte da equipe de bailarinas dos shows de Beyoncé.
Ela trabalhou em conjunto com um consultor de língua de sinais, Antoine
Valette, e os compositores Yasmine Meddour e Maxence Dussere. Meddour explica
que a coreografia foi o mais difícil de criar, pois tinha de ser, ao mesmo
tempo, poderosa e libertadora.
“A personagem tinha que extrair sua energia
do solo e difundi-la em todo o seu corpo. Uma dança natural com um ritmo que
invade o corpo. Para esta coreografia, primeiro traduzimos para a linguagem de
sinais das passagens do roteiro, e, então, Hajiba reinterpretou cada sinal em
movimento para criar a coreografia final, muito simbólica e cheia de força.
Este processo foi longo e trabalhoso, mas muito estimulante e criativo. Hajiba
também preparou Lyna fisicamente para dança clássica.”
A atriz Lyna Khoudri já havia trabalhado com
a cineasta em “Papicha”, e essa parceria e o conhecimento mútuo foram fundamentais
para Meddour criar a personagem e DANÇANDO
NO SILÊNCIO. “No
filme, falamos de silêncio, choque pós-traumático, reabilitação física, e, para
isso, foi fundamental coletar o máximo de informações possíveis para construir
uma personagem justa, precisa e crível. Então, fizemos muitas entrevistas com
psicólogos e neurologistas para tentar entender o que estaria acontecendo na
cabeça de Houria e entendendo seu silêncio como resultado de um choque
pós-traumático.”
DANÇANDO NO SILÊNCIO será lançado no Brasil pela Pandora Filmes.
Sinopse
Uma jovem apaixonada por balé passa por um
trauma, conhece outras mulheres que passaram por situações semelhantes e
encontram uma forma criativa de perseguir sua paixão.
Ficha Técnica
Direção: Mounia Meddour
Roteiro:
Mounia Meddour
Produção:
Lyna Khoudri, Rachida Brakni, Amira Hilda Douaouda
Elenco:
Lyna Khoudri, Rachida Brakni, Nadia Kaci, Hilda Amira Douaouda, Meriem
Medjkane, Zahra Manel Doumandji, Sarah Hamdi, Sarah Guendouz, Amina
Benghernaout, Camila Halima-Filali, Marwan Fares, Hassen Ferhani
Direção de Fotografia: Léo
Lefèvre
Desenho de Produção:
Chloé Cambournac
Trilha Sonora:
Maxence Dussèr, Yasmine Meddour
Montagem:
Damien Keyeux
Gênero: drama
País:
Argélia
Ano:
2022
Duração:
104 minutos
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