Arturo Saboia (direção
e roteiro) e Cassia Melo (produtora executiva) têm, no currículo, dentre outros
prêmios, 6 Kikitos, no Festival de Gramado, pelo curta Acalanto (2013), o
primeiro e já bem-sucedido trabalho da dupla. Para retratar a vida e luta desse
líder incansável, a equipe se debruçou sobre pesquisas, entrevistas,
depoimentos, documentos de época e visitas às locações marcantes da trajetória
de Mané da Conceição, como era conhecido. O projeto conta com a Lei de
Incentivo à Cultura, patrocínios do governo do Estado do Maranhão e Grupo
Mateus e realização da Climax Filmes e Oito Projetos Criativos.
Subversivo indomável.
Assim se definiu o próprio Manoel da Conceição, em entrevista histórica ao
jornal O Pasquim. Primogênito de um casal de lavradores, Manoel nasceu, em
1935, em Pedra Grande (MA). Manoel e sua família foram expulsos diversas vezes
das terras que cultivavam. Na década de 1950, com o apoio do Movimento de
Educação de Base, o MEB do educador Paulo Freire, Manoel conseguiu se
alfabetizar, se politizar e ter consciência da exploração e da injustiça do
latifúndio. Em 1963, fundou e foi eleito presidente do primeiro sindicato de
trabalhadores rurais do Maranhão, o Pindaré-Mirim. Com o golpe de 1964, o
sindicato foi dissolvido e Manoel passou um mês preso, junto com outras
lideranças. Em 1967, vincula-se à Ação Popular (AP) e, apesar da repressão,
mantém o sindicato atuante. Em 1968, a Polícia Militar invadeo sindicato e
Manoel é baleado no pé. Preso sem qualquer tratamento por uma semana, Manoel
perde a perna direita gangrenada. Na época, o governo tentou silenciar Manoel,
que respondeu: “Minha perna é minha classe”. O resto é história.
“Tive a ideia de fazer
este filme quando conheci Manoel da Conceição, há 20 anos, ao fazer uma
pesquisa de locação. Foi um privilégio. Acabei viajando com ele por
comunidades, assentamentos e aldeias no interior do Maranhão. Há 2 anos, em
plena pandemia, resolvi transformar o sonho em realidade e chamei para o
projeto um roteirista com esse olhar pungente, o cineasta maranhense Arturo
Saboia, colega de longa data. E a ideia não é parar no documentário. A vida do
Manoel rende uma série e precisa ser propagada, porque se funde com a própria
história do país”, destaca a produtora Cassia Melo. Paulista de nascimento e
publicitária de formação, Cassia começou sua carreira no audiovisual com o
cineasta Fernando Meirelles, na O2 Filmes, e não parou mais. Há 20 anos, atrás
das raízes paternas, se mudou para o Maranhão e fundou a Oito Projetos
Criativos. A produtora é pioneira, em São Luís, em alavancar projetos culturais
e esportivos por meio de leis de incentivo. E, agora, segundo ela, lança o
projeto da sua vida.
O documentário Minha
Perna, Minha Classe refaz o percurso da infância de Manoel, permeada de
violência na zona rural do Maranhão, ao retorno ao Brasil pós-exílio na Suíça.
Dentre os destaques, a viagem de Manoel à China, onde fez cursos e se
aprofundou no pensamento maoísta; o ano de 1972, quando foi preso novamente e
brutalmente torturado, no Rio de Janeiro, com sequelas para toda a vida e,
1979, com a Anistia, quando regressa ao Brasil e se engaja na fundação do
Partido dos Trabalhadores (PT). Manoel foi o terceiro militante a assinar a
ficha de filiação do partido, ao lado de Mário Pedrosa e Apolônio de Carvalho.
Ele contribuiu, ainda, ativamente na fundação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural
(Centru) e da Escola Técnica Agroextrativista (ETA).
E, por fim, uma outra
faceta de vanguarda, o Manoel ambientalista. No retorno ao Brasil, ele ampliou
ainda mais a sua luta, defendendo o agroextrativismo e a coexistência entre
homem e natureza. “O documentário está sendo lançado num momento mais do que
oportuno. Nos últimos anos, o discurso de ódio e violência varreu o país.
Manoel nunca pregou o uso violência. Pelo contrário, foi vítima dela. O que ele
pregava era uma estratégia de luta para aprender a se defender e isso passava
pelo conhecimento da terra e da natureza”, explica o diretor Arturo Saboia, o
jovem cineasta maranhense já coleciona 70 prêmios no Brasil e no exterior.
Dentre eles, o de melhor filme pelo curta Farol (2018), no Los Angeles Film
Awards. O diretor acredita que este é o seu trabalho mais desafiador no gênero
do documentário, seja pela complexidade do personagem, seja pela escassez de
registros fotográficos e vídeos de época, em razão da clandestinidade da luta
de Manoel da Conceição. No estilo, uma inspiração: “uma das minhas maiores
referências no documentário é Eduardo Coutinho. Sou profundo admirador de sua
obra, em especial Cabra Marcado para Morrer. Ambos os filmes têm assuntos
similares, como a violência no campo”.
"Minha perna é
minha classe”, a frase que batizou o documentário está espalhada em várias
partes do mundo e virou lema. Mesmo tendo conhecido de perto a dureza da
prisão, da tortura e do exílio, Manoel continuou firme em sua utopia de um
mundo melhor e com justiça social. Inspiração para diferentes gerações na luta
contra a opressão.
Aqui um teaser do
filme:
https://www.youtube.com/watch?v=6ATw9T1SlEQ
Serviço:
O quê: Mesa-redonda com o diretor e a produtora
e exibição do filme
Quando: Sábado (18/03), às 19h
Onde: Cinemateca Brasileira - Sala
Grande Otelo
Endereço: Largo Sen. Raul Cardoso, 207 -
Vila Clementino - CEP 04021-070 - SP
Capacidade: 210 lugares + 04 assentos
para cadeirantes
Quanto: Ingressos gratuitos
Informações: Tel. 11 5906-8000
FICHA TÉCNICA:
Minha Perna, Minha
Classe
Gênero: Documentário
Diretor: Arturo Saboia
Produtora Executiva: Cassia Melo
Elenco: Vitor Ramos Sousa, Pedro
Henrique dos Santos Morais, Admilson Diniz dos Santos, Joilma Menezes dos
Santos
Duração: 90 min
Ano: 2023
Formato: Digital
País: Brasil
Local de Produção: Maranhão
Cor: Colorido
Trilha Sonora: Matheus Vilarindo
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