Contando com a primeira equipe de cinema a filmar dentro
do DOI-CODI de São Paulo, o documentário MEMÓRIA
SUFOCADA olha a história da Ditadura Militar e a
tortura no Brasil a partir da perspectiva do presente. Buscas na internet
mostram narrativas distintas do passado, mas que iluminam os dias de hoje.
Dirigido por Gabriel Di Giacomo, o longa chega aos cinemas brasileiros dia 30
de março, com distribuição da Embaúba Filmes. A produção é da Salvatore Filmes.
“Hoje, a informação e a desinformação estão
ao alcance de todos. Muitos fatos são construídos nas redes sociais e a
realidade é cada vez menos nítida. Este é o ponto central do filme, qual é a
‘verdade’ histórica e como os fatos podem ganhar novas narrativas com o passar
dos anos. Na década de 1960, setores da elite brasileira, com o apoio da mídia,
plantaram diversas fake news sobre a situação do país para conseguir levar os
militares ao poder, era urgente evitar ‘o avanço comunista no Brasil’,
‘proteger a pátria e a família’ e ‘acabar com a bagunça’”.
O longa conta com um rico material, que foi
encontrado hospedado na internet, tornando-se uma regra para a estruturação: só
conteúdos que estavam disponíveis para qualquer internauta. A partir disso,
descortina os horrores da Ditadura que, às vezes, são descritos de outra forma.
“Por acompanhar a recente crise democrática
em tempo real, senti a necessidade de fazer este filme como um exercício de
reflexão sobre a nossa memória coletiva. As relações da sociedade com seu
passado são dinâmicas, fluidas e contraditórias e MEMÓRIA SUFOCADA traz uma análise do processo de construção da memória da
Ditadura Brasileira que segue em disputa.”
A pesquisa rendeu a Giacomo um conteúdo tão
rico que ele expandiu o projeto no website do documentário, transformando-o
assim em “um convite para
as pessoas acessarem o material que serviu de base para construção do roteiro,
para que cada espectador possa fazer a sua pesquisa e montar seu próprio filme,
mesmo que seja dentro de sua mente”. No site https://memoriasufocada.com.br, é
possível encontrar sugestões de filmes, vídeos e entrevistas com temas
relacionados, como Golpe, Repressão e Anistia.
O cineasta conta que uma das coisas que mais
o surpreendeu foram as propagandas do governo da época, que define como uma
mistura de inocência com perversidade e recheadas de mentiras. “Uma delas é uma tentativa de
responsabilizar a população pelo aumento da inflação e diz que a solução
depende de todos, que basta pechinchar para os preços caírem, parece um
esquete. Na época, a inflação estava perto de 40% ao ano e o regime tentando
terceirizar a culpa do fracasso econômico para o povo, é uma covardia muito
grande.”
O processo do longa começou com leituras de
livros e textos sobre a Ditadura, acesso aos documentos da Comissão da Verdade,
apreciação de filmes e um contato inicial com pesquisadores do tema. Quando o
diretor percebeu que seria inviável produzir o documentário da forma
tradicional por conta do isolamento social provocado pela pandemia de COVID-19,
ele o fez da única maneira possível naquele momento, mergulhando em uma
pesquisa de vídeos da internet e se deparando com um acervo incrível de imagens
da Comissão Nacional da Verdade e do Arquivo Nacional. “É interessante, pois todo o material
está disponível, mas eu nunca tinha assistido a boa parte dos vídeos, que tem
poucas visualizações.”
Olhando para o passado e refletindo sobre o
presente dos últimos quatro anos, o diretor aponta em MEMÓRIA SUFOCADA
paralelos entre 1964 e a eleição de Bolsonaro de 2018. “O ex-presidente segue promovendo o
revisionismo histórico do regime militar com auxílio de influenciadores que
tentam construir a imagem de golpistas como heróis. Como um dos resultados, já
assistimos a inédita invasão e depredação do Congresso Nacional em 8 de janeiro
de 2023. Ainda acredito na velha máxima de que podemos aprender com os erros do
passado e que não aceitar a relativização deles é uma forma de no futuro não
elegermos novos Bolsonaros.”
MEMÓRIA SUFOCADA será lançado no Brasil pela Embaúba Filmes.
Sinopse
Coronel Ustra é o único militar condenado
como torturador durante a Ditadura. O ex-presidente Jair Bolsonaro o exalta
como um herói. Mas qual é a verdade? Através de buscas pela internet, o passado
do Brasil vai sendo reconstruído e esbarra no presente.
Ficha Técnica
Direção: Gabriel Di Giacomo
Roteiro:
Gabriel Di Giacomo
Fotografia:
Bruno Graziano
Montagem:
Gabriel Di Giacomo
Música:
Cauê Bravim
Produtor:
Marcelo Botta, Gabriel Di Giacomo
Produção:
Salvarote Filmes
País:
Brasil
Ano:
2021
Duração:
76 minutos
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