Os filmes da Mostra Embaúba Cinema e Política compreendem
o sentido do “fazer política” como algo orgânico da vivência, para além dos
conchavos de gabinete ou reuniões de portas fechadas. É uma produção
audiovisual contemporânea brasileira que olha para a política sob diversos
aspectos e possibilidades, que a compreende como elemento constitutivo da
cidadania do indivíduo e do coletivo, que acredita nas batalhas diárias da
micro e da macropolítica no máximo das tentativas por vidas mais dignas.
“Estamos te Esperando em Casa” (Cecília da Fonte e Marcelo Pedroso, 2021) é o mais
próximo de uma vivência coletiva recente ao documentar o cotidiano de Poliana,
terapeuta ocupacional num hospital do Recife que, no ápice de internações
ocasionadas pela COVID-19, faz o que pode para conectar pessoas isoladas em UTIs
a seus entes queridos através de videochamadas de celular. Entre o dia a dia
mais ordinário da profissional e seu corre-corre pelos corredores e quartos de
hospital, o média-metragem coloca o espectador por dentro da angústia de uma
sequência de acontecimentos cuja responsabilização oficial ainda está por ser
definida, ainda que todos saibamos de que instância vem.
A política do gesto: Reinaldo, craque do
Atlético-MG nos anos 1970, desafia a ditadura militar ao erguer o punho direito
ao empatar o jogo contra a Suécia na Copa do Mundo de 1978. A imagem, até hoje
considerada um ícone da resistência aos desmandos antidemocráticos do regime
militar brasileiro, está em “Lutar
Lutar Lutar” (Sérgio Borges e Helvécio Marins Jr, 2021).
Resgatar a consciência de um profissional que se preocupava com os rumos de
violência de um governo autoritário décadas atrás é duplamente um gesto
político – do filme e da importância de Reinaldo.
“Brizolão” (Jéferson, 2021) resgata a história e o impacto dos CIEPs
(Centros Integrados de Educação Pública), implantados no Rio de Janeiro durante
os governos de Leonel Brizola (1983-1987 / 1991-1994), tendo projeto
educacional desenvolvido pelo sociólogo Darcy Ribeiro e arquitetura das escolas
a cargo de Oscar Niemeyer. Entre depoimentos de ex-professoras dos CIEPs,
historiadores e políticos analisando a importância da iniciativa, o
longa-metragem também resgata imagens de arquivo (incluindo várias entrevistas
de Brizola) que permitem um olhar amplo sobre o processo, de sua ascensão ao sucateamento
posterior e o resgate em anos recentes, ainda que sem a mesma atenção do
Estado. “O político tem que olhar para o futuro, para as novas gerações”,
declama Brizola.
“Quem Tem Medo?” (Ricardo Alves Jr, Henrique Zanoni e Dellani Lima, 2022)
é um documentário que registra os inúmeros casos de censura a artistas
brasileiros em anos recentes, período no qual a extrema direita ampliou espaço
político e social e, com isso, foi para cima de manifestações culturais que
considerassem passíveis de proibição. Casos de grande repercussão envolvendo
nomes como Renata Carvalho, Wagner Schwartz, Maikon K, José Neto Barbosa e as
peças “Caranguejo Overdrive” (Aquela Cia de Teatro) e “RES PUBLICA 2023” (A
Motosserra Perfumada) são abordados.
“Entre Nós Talvez Estejam Multidões” (Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito) tem a campanha
eleitoral de 2018 como pano de fundo do cotidiano dos moradores da Ocupação
Eliana Silva, na região de Belo Horizonte, marcada por um dia a dia de tensões
e possibilidades de confronto com forças oficiais. A ascensão da extrema
direita ao governo é o fantasma a aumentar os assombros do local, captado pela
câmera em suas complexidades humanas, nas esperanças do futuro e na resistência
aos constantes obstáculos impostos pelas injustiças vindas principalmente do
Estado.
“Pão e Gente” (Renan Rovida, 2021) se baseia no dramaturgo alemão
Bertolt Brecht (1848-1956) para tratar da fome e do desemprego no Brasil e
mescla encenação e improvisação de um grupo de atores às margens de uma
sociedade cada vez mais desigual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário