Diretor de curtas, como “Meu amigo Mineiro”,
Victor Furtado estreia em longas com o premiado ÚLTIMA CIDADE, que tem como
cenário um nordeste brasileiro mergulhado numa distopia, e como protagonista um
homem que, ao lado de seu cavalo e um andarilho, busca enfrentar aquele que
destruiu sua vida. A produção levou os troféus de Melhor Filme e Menção honrosa
de Melhor Fotografia, no Festival de Cinema de Vitória do ano passado.
Furtado conta que a ideia para o longa nasceu
numa noite de réveillon, na qual o argumento veio-lhe como uma catarse. “Depois disso, busquei entender o que
deu origem aquela ideia nada original e percebi que meu trabalho consistia em
recompor o que já existia: o herói quixotesco, a América Latina dos saberes
antigos com a vontade de filmar a aventura que nos coloca ao lado dos que
sofrem com esse sistema,
apresentando minha cidade natal, Fortaleza, como parte desse projeto neoliberal
sem fim.”
O protagonista do filme é João, interpretado
por Julio Adrião (“Sertania”), que em seu cavalo Cruzeiro, e, na companhia de
um andarilho chamado Tahiel (Hector Briones) vai à última grande cidade do
nordeste para ficar frente-a-frente com o homem que tomou suas terras e acabou
com sua família.
Para contar essa história, Furtado, que
assina o roteiro com Thiago Mendonça, se vale de uma combinação de diversos
gêneros cinematográficos, que foram pautados pelos sentimentos que os
personagens despertavam nele, além da busca pela melhor maneira de abordar os
assuntos do longa.
“O
Northwestern, gênero que nordestina o oeste americano, veio naturalmente com a
presença do sertanejo, A distopia foi a forma que encontrei de apresentar a
realidade opressora que vivemos e que desnorteia João, Tahiel e Cruzeiro. A
participação de Tchoca e Pirrita, Cristina e Liduína foram a parte
verdadeiramente documentário de toda a jornada, por isso há uma surpresa nessa
hora, pois o filme precisava se adaptar para estar à altura deles - não o
contrario.”
A premiada fotografia assinada por Victor De
Melo se inspira tanto nas artes visuais, como pintura e quadrinhos, como se
aproveitando da luz natural e da arquitetura para a construção da estética do
filme, e Furtado conta que não podia imaginar outra pessoa na função.
“Sempre
tinha pensado em De Melo para fotografar pois é um filme que apesar de sua
fantasia, de seu ‘não realismo’, é um filme que busca olhar para conflitos
sociais históricos, sob um ponto de vista da luta de classes e a parceria com o
Victor de Melo tinha esse olhar que eu precisava para esse tema.”
O registro não-naturalista das atuações é uma
ideia que esteve presente desde a concepção de ÚLTIMA CIDADE, cujo elenco
também inclui atrizes não profissionais, preparadas por Nataly Rocha. “Nas filmagens, quando alguns momentos
pediam uma vibração nova, procurava táticas para desestabilizar alguns atores,
pedir deles uma renovação da emoção sedimentada nos ensaios. O encontro dos
protagonistas com as atrizes/atores não profissionais gerou uma centelha de
curto-circuito no tom de atuação do filme, mas trouxe um frescor e uma surpresa
que mudaram bastante a superficialidade do filme.”
O diretor também ressalta a relação que o
longa estabelece com o Brasil contemporâneo, especialmente, em sua crítica ao
neoliberalismo. “O filme
diz que precisamos olhar para nossos mitos de origem com crítica e
desconfiança, questionar as narrativas coloniais, lembrar esse Brasil como um
projeto de elite que vem se consolidando desde o começo: a invasão e tomada das
terras dos indígenas, a matança dos povos de origem e apagamento dos primeiros
mitos, a grilagem que sustenta a branquitude brasileira e que vem
culminar no desenvolvimento liberal de hoje.”
“Nossa riqueza como a nossa pobreza é a
maldição que veio com o nome Brasil.
João começa o filme querendo vingar toda a morte de si e ao seu redor e acaba
por combater uma força desigual, injusta. O projeto neoliberal atual deixa
muitos feridos enquanto constrói castelos blindados”, conclui.
Sinopse
João, montado no seu cavalo Cruzeiro, e na
companhia de um andarilho chamado Tahiel, adentra uma grande cidade do nordeste
brasileiro para enfrentar aquele que tomou suas terras e acabou com sua
família.
Ficha Técnica
Direção: Victor Furtado
Roteiro: Thiago Mendonça, Victor Furtado com colaborações de Pedro
Diógenes, Laila Pas, Thais de Campos, Julio Adrião, Hector Briones.
Produção executiva: Amanda Pontes e Caroline
Louise
Elenco: Julio
Adrião, Hector Briones, Danilo Pinho, Yasmin Salvador, Cristina
Costa, Liduina Costa, Maria do Carmo (Tchoca) e José Rufino (Pirrita)
Direção de produção: Laila Pas
Montagem: Ricardo Pretti
Fotografia: Victor De Melo
Direção de arte: Thais De Campos
Trilha sonora: Pedro Fonseca
Mixagem: Lucas Coelho De Carvalho
Som direto: Nicolas Hallet
Edição de som: Lucas Coelho De Carvalho
Cenografia: Thais De Campos
Figurino: Diogo Costa
Empresa produtora: Marrevolto Filmes
Duração: 70 min.
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