“Edna”, de Eryk Rocha (“Campo de Jogo”, “Transeunte”), recebeu mais um prêmio: Melhor Longa Metragem-Documentário pelo Júri Jovem no 30º Festival Biarritz Amérique Latine. Ovacionado pelo público, que encheu a sala em todas as sessões ao longo da última semana, é a segunda estatueta que o filme recebeu na Europa e quarta em sua carreira, que já soma participação e boas críticas em mais de 10 festivais pelos quatro cantos do mundo.
No ano em que completa 20 anos de audiovisual, Eryk só tem a celebrar com seu filme: “Ainda estou sob o impacto da estreia francesa de EDNA no Festival Biarritz. É muito emocionante ver o filme na tela em comunhão com público e sala lotada. Como diz um amigo: "O cinema sendo Cinema!. Nesse momento de ruínas e tragédia do nosso país, é um respiro levar a história de luta, poesia e resistência de Edna Rodrigues de Souza para o mundo. Viva EDNA e todas as criadoras e criadores que realizaram esse filme."
O respeitado site de críticas de cultura e política MediaPart (França) apontou sobre EDNA: "Retrato de uma lutadora da Amazônia que ainda carrega em seu corpo a violência dos algozes impunes da ditadura brasileira a partir da leitura de seu diário em uma magnífica fotografia em preto e branco". CÉDRIC LÉPINE também comentou: "Eryk Rocha com beleza e senso da sutileza da descrição política oferece um retrato de uma força estimulante de Edna Rodrigues de Souza e, por meio dela, de todas as mulheres que sofrem a opressão de uma sociedade patriarcal encarnada no agora no Brasil pelo fundamentalismo religioso e a opressão dos lobbies agroalimentares com o objetivo de destruir o meio ambiente amazônico e seus habitantes."
No último mês, o longa foi nomeado em dois festivais: Prêmio Menção Honrosa do Júri - na 10ª Mostra Ecofalante (Brasil), e Prêmio de Melhor Direção - FICVIÑA - Festival Internacional de Cine de Viña del Mar (Chile). Além destes, também ganhou o Prêmio Menção Honrosa Especial no Pesaro Film Festival 2021 (Itália). O filme teve estreia nacional este ano no Festival É Tudo Verdade e mundial no Visions du Réel (Suíça).
Outro marco importante do filme foi a participação no renomado Telluride Film Festival, no Colorado - EUA, que habilita automaticamente o filme a se inscrever nas principais premiações estadunidenses, como o Cinema Eye Honors, Critics Choice Documentary Awards, IDA Docs e Film Independent Spirit Award. É a segunda vez que Eryk Rocha participa do festival em seus 20 anos de carreira.
"A estreia norte-americana de EDNA no Festival de Telluride foi muito bonita e emocionante. Havia participado do festival há 10 anos atrás mostrando "Transeunte". E agora foi a primeira vez que assisti EDNA em tela grande em comunhão com o público. Por conta da pandemia não pude viajar nos festivais anteriores. E o filme ganha muito impacto e potência na tela grande na experiência coletiva/ emocional/ sensorial da sala de cinema. Houveram três sessões do filme com debates e sinto que o público ficou muito comovido com a história e vida de Edna. As pessoas também ficaram instigadas e puderam conectar Edna com o atual contexto político brasileiro", diz o diretor.
Com olhar sensorial, poesia e política se fundem a partir do caderno de memórias e traduções de sentimentos “Histórias da Minha Vida” de Edna, a protagonista, que dá nome ao filme, carrega consigo a trajetória de luta e resistência pela terra, existência e dignidade humana. À beira da rodovia Transbrasiliana, vive essa mulher-memória guerrilheira que enfrentou a grilagem e aqueles que mandam nela na Guerra dos Perdidos (1976), inspirada pela grandiosa e devastadora Guerra do Araguaia (1967-1974). É por meio de sua prosa, que costura lembranças e dores dessa tragédia histórica no Brasil que perdura até hoje como ferida aberta e realidade diária de destruição, extinção e descaso político.
“Desde o início ficamos muito impressionados e cativados pela presença, pela voz e força do relato de Edna. Filmei esse primeiro encontro com a câmera acomodada nas pernas trêmulas. Ouvimos comovidos Edna dizer coisas tão fortes e com tanta doçura, e ao mesmo tempo com tanta dor e sofrimento. Essa conversa aconteceu em sua casa na beira da estrada na rodovia Transbrasiliana a poucos quilômetros do município de São Geraldo do Araguaia, fronteira entre Pará e Tocantins.”, conta o diretor Eryk Rocha, vencedor da Palma de Ouro de não-ficção em Cannes com o filme “Cinema Novo”.
Com argumento de Gabriela Carneiro da Cunha, que se une ao diretor e Renato Vallone na construção do roteiro, Eryk ainda reflete sobre a personagem e sua história: “EDNA encarnava a terra, o corpo-terra, a luta pela terra. Imagem tão forte que permeia a história de sangue do Brasil. Ela trazia suas marcas, experiências que se entrelaçam com a tragédia histórica do Brasil que tão cruelmente tem a ver com o nosso presente. Presente de feridas abertas e questões cruciais que ainda não fomos capazes de resolver como povo. Nas palavras dela: “eu tenho medo, a guerra ainda não acabou”. Edna está certa, e o Brasil 2021 Bala-Boi-Bíblia é uma catástrofe.”
O filme é uma produção da Aruac Filmes com o apoio de Cinebrasil TV e Rumos Itaú Cultural.
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