Acontece
até 28/12 a Mostra
Saberes Tradicionais UFMG dentro da 9ª edição do Cinecipó -
Festival de Filme Insurgente. Desde 2014, no
esforço de criar práticas pluri-epistêmicas de ensino e pesquisa, o
Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da
universidade acolheu dezenas de profissionais das culturas
afro-brasileiras, indígenas e populares, que ministram disciplinas
oferecidas a todos os cursos de graduação. Assim, foram criados
formatos audiovisuais – Vídeo Aulas, Documentários, Retratos e
Cantos – que buscam colocar em cena o encontro entre os saberes
tradicionais e o conhecimento acadêmico.
Dentro da
mostra, destaca-se o documentário Nas Giras do Vento, de César
Guimarães e Pedro Aspahan, que percorre a vida de Maria Luiza
Marcelino - mestra dos pontos cantados da umbanda, liderança
quilombola e zeladora do Centro Espírita Caboclo Pena Branca, em
Ubá. No filme, ela vai ao encontro de seus ancestrais que jazem
próximos aos escombros de uma antiga fazenda escravocrata. Lá, ela
cria, de improviso, um ritual, entre cantos e danças, numa gira
entre as gerações e as diferentes temporalidades.
Em seus
diferentes formatos e com a peculiaridade de seus recursos
expressivos, os vídeos documentam as complexas formas de
sistematização e de transmissão – predominantemente orais – dos
saberes produzidos pelas culturas tradicionais e que nem sempre
encontram formatos adequados no âmbito das publicações impressas.
As divisões da programação são: Retratos, conversas com
profissionais das culturas populares sobre as relações com os
ancestrais, atitudes e valores que definem suas maestrias. Nos
projetos, apresentam ao espectador a cosmovisão que orienta seu
saber e os outros elementos a ele associados, como as narrativas
míticas, os cantos, as rezas, as práticas rituais, os jogos e as
danças;
Vídeoaulas, aulas ministradas por mestras e mestres
dos saberes tradicionais na universidade ganham, muitas vezes, um
caráter de acontecimento, pois colocam em diálogo diferentes
cosmovisões, contando com a presença, no fora de campo, de
entidades, espíritos e de uma história fortemente marcada pela
oralidade e pela performance do corpo e da voz.
Documentários, formatos
que apresentam formas fílmicas que traçam um arco narrativo mais
definido, incluindo não apenas as conversas com os mestres, mas
também performances e jogos construídos especialmente para o filme,
elaborados conjuntamente com os sujeitos filmados. Os filmes surgem
como resultado de um acontecimento experienciado em partilha com os
mestres e com a presença da câmera, produzindo um material fílmico
que acaba por exigir de nós outra elaboração audiovisual. E
Cantos, sessões que reúnem vídeos com registros de diferentes
cantos das mestras e mestres das culturas populares brasileiras,
afrodescendentes e indígenas que participaram do Programa de
Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG. Guiados pela
relação com a ancestralidade e com a alteridade (dos espíritos, das
entidades, dos animais e das plantas), eles afirmam um outro mundo
possível.
Patrocínio
MGS
Apoio
Embaúba
Projeto
9ºCinecipó, nº 0907/2018, aprovado no Edital IF 2018-2019
oriundo da Política de Fomento à Cultura Municipal (Lei nº
11.010/2016).
Programação
Retratos
Retrato das
Mestras Xakriabá
César
Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 41', 2018
Escutamos
um pouco da trajetória, das técnicas de construção e da pintura de
toá, e dos cantos das Mestras Xakriabá Lourdes Seixas Evarista,
Dona Rosa Seixas Ferro Bezerra e Isabel Cavalcante Bezerra, da
terra indígena localizada em São João das Missões, MG. No curso
oferecido na UFMG – "Saberes Tradicionais: Cosmociência –
Culinária e Construção Xakriabá" (2018) – as mestras renovaram
o barreado da estrutura de pau-a-pique da casa Xakriabá construída
no Jardim Mandala, na Faculdade de Educação.
Retrato de
Mestre Antônio de Bastião
César
Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 57', 2018
Mestre
Antônio de Bastião, tamborzeiro, curteiro, benzedor e conhecedor
das plantas medicinais do cerrado, de São Benedito do Capivari
(MG), compartilha conosco sua vasta sabedoria, contando como foi a
herança do ofício, os processos de trabalho e de preparação para
entrar na mata, o conhecimento das plantas medicinais do cerrado,
os toques e cantos das folias e reinados. Ele ministrou a
disciplina "Artes e ofícios dos Saberes Tradicionais: Danças,
cantos, toques e instrumentos tradicionais (2018)", quando
ensinou os alunos a construir diversos tipos de tambores utilizados
em folias e reinados, com as madeiras de árvores mortas do cerrado.
Retrato de
Mestre Arnaldo de Lima | Naldim
César
Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 64', 2018
O mestre
Arnaldo de Lima, também conhecido como Naldo ou Naldim, liderança
quilombola do Quilombo Custaneira, Piauí, fala de seu ofício de
cantador, mestre das danças da Lezeira e de São Gonçalo, cantor de
Incelenças, Benditos e dos cantos da Jurema, com a ajuda de seu
assistente e aprendiz, Samuel Alves da Silva, também do Quilombo
Custaneira. Eles participaram da disciplina "Artes e ofícios
dos Saberes Tradicionais: danças, cantos, toques e instrumentos
tradicionais" (2018).
Videoaulas
Videoaula
com Mestre Joelson Ferreira de Oliveira
Saberes
Tradicionais, 108', 2019
Liderança
do Assentamento Terra Vista e da Teia dos Povos, de Arataca, Bahia,
o mestre Joelson Ferreira fala da luta pela terra e pelo
território, destacando a importância da educação, dos saberes
tradicionais e da ancestralidade para a transformação das práticas
agroecológicas de manejo e sustentabilidade da terra e das
florestas, da construção de uma soberania alimentar e da
constituição de uma sociedade mais justa. Ele participou da
disciplina "Artes e ofícios dos Saberes Tradicionais:
Políticas da Terra" (2018).
Videoaula
com Mestres Tupinambá
Saberes
Tradicionais, 138', 2019
Nessa
videoaula, os Mestres Tupinambá Cacique Babau, Glicéria Tupinambá e
Maria da Glória de Jesus, lideranças da Serra do Padeiro, no sul da
Bahia, falam das histórias e estratégias de luta, da retomada das
terras de seu povo e de uma série de aspectos centrais para a
sobrevivência da cultura Tupinambá, que vem sendo perseguida e
ameaçada frontalmente nos tempos atuais. Eles participaram da
disciplina "Artes e ofícios dos Saberes Tradicionais:
Políticas da Terra" (2018).
Videoaula
com Mestra Pedrina de Lourdes Santos #01
Saberes
Tradicionais, 138', 2019
Nessa
videoaula, animada pelo belíssimo canto da Mestra Pedrina, Capitã
da Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês de Oliveira,
MG, ela aborda os vários e complexos aspectos da Festa e do Reinado
do Rosário – com suas guardas, cantos, ritmos e danças –
vinculando-os à ancestralidade africana. Em um potente gesto
de imaginação intelectual contra-colonizadora, ela produz uma
dessincretização da festa, deslocando-a do universo católico e
associando-a com a ancestralidade e as religiosidades de origem
africana. Ela participou da disciplina “Catar folhas”: saberes e
fazeres do povo de axé" (em 2016 e em 2017), juntamente com
seu assistente, Washington Luis Santos Oliveira.
Documentários
O Boi de
Oliveira
Saberes
Tradicionais, 28', 2018
O filme
acompanha o percurso do Boi que anuncia a festa de Nossa Senhora do
Rosário de Oliveira, MG. Arrastando multidões, entre a devoção e a
vibração das ruas, o boi é senhor das encruzilhadas e abre os
caminhos para o festejo. O filme foi realizado de modo coletivo
entre professores e alunos do Programa de Formação Transversal em
Saberes Tradicionais da UFMG.
Nas Giras
do Vento
César
Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 25', 2020, estreia
Mestra dos
pontos cantados da umbanda, liderança quilombola e zeladora do
Centro Espírita Caboclo Pena Branca, em Ubá, Maria Luiza Marcelino
vai ao encontro de seus ancestrais que jazem próximos aos escombros
de uma antiga fazenda escravocrata. Lá, ela cria, de improviso, um
ritual, entre cantos e danças, numa gira entre as gerações e as
diferentes temporalidades. Ela abre os caminhos e Iansã vem nos
saudar.
Makota
Valdina
César
Guimarães, Pedro Aspahan, Saberes Tradicionais, 52', 2019
Makota
Valdina, liderança do Terreiro Nzo Onimboya, em Salvador, foi
figura central na história brasileira das lutas em defesa das
religiões de matriz africana, dos direitos das mulheres e das
populações negras desde a década de 1970. Ela esteve conosco no
curso “Políticas da terra”, em 2018. Nesse filme, ela conta
um pouco da sua história de vida e fala da relação entre a
natureza, os inquices e a cura. Ela adentra a mata em
busca de uma planta chamada de pindaíba ou quebra-feitiço, cujo
nome popular liga-se à dijina de Valdina – Zimewanga – aquela
que “tira o sofrimento” e “desfaz o feitiço que se abate
sobre alguém”. Ao final, os Caboclos chegam para nos ajudar a
tratar da saudade que ela nos deixou.
Cantos
Mestre
Bengala
Comunidade
dos Arturos, Contagem, MG
Mestre João
do Pife
Caruaru, PE
Makota
Valdina
Terreiro
Nzo Onimboya, Salvador, BA
O CINECIPÓ
O Cinecipó – Festival do Filme
Insurgente – teve sua primeira edição em 2011,
na Serra do Cipó (MG). A proposta era realizar quatro dias de
cinema ao ar livre, na praça e de graça, levando ao público
filmes que não têm espaço na mídia onvencional. Até 2015, o
festival foi realizado na Serra do Cipó, Lapinha e Santana do Riacho.
Também já foram realizadas mostras em outras partes do Brasil como
Pernambuco e Brasília. O coletivo produziu exibições itinerantes no
Espaço Comum Luiz Estrela, Quilombo dos Marques, Quilombo do
Palmital e em escolas públicas.
Além dos
filmes, o festival também já ofereceu oficinas e workshops nas
áreas de cinema, artes plásticas e música voltadas para a questão
da sustentabilidade.
Por causa
da pandemia da COVID-19, em 2020 o festival acontece online e tem
duração de um mês. Entre os realizadores dos filmes, uma forte
presença de LGBTQI+, mulheres e negros.
Serviço:
9ª edição
do Festival Cinecipó
Data: 30/11 a
28/12
www.cinecipo.com.br
Gratuito
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