Escrito e dirigido pelo
carioca Felipe Bragança, “Um Animal Amarelo” faz sua estreia mundial no
Festival de Roterdã. O longa está em competição na Big Screen Competition,
seleção de 9 longas em estreia mundial descrita pelo site do festival como
"uma coleção de filmes poderosos de diretores com carreiras de destaque
internacional".
Em "Um Animal
Amarelo", descrito como uma tragicômica e melancólica fábula tropical
sobre as heranças do colonialismo português no Brasil de hoje, Bragança traz
suas memórias e impressões de cidadão brasileiro e artista vivendo no
conturbado Brasil atual “O filme é feito no encontro misterioso entre o
pesadelo político-cultural que estamos vivendo e histórias muito pessoais e
escondidas sobre as quais os brasileiros nem sempre gostam de falar”, ele
explica.
Filmado no Brasil, Portugal
e Moçambique, “Um Animal Amarelo" traz a inquietação do diretor sobre
questões de identidade individual e coletiva:
“Filmar nesses países não
foi como filmar no estrangeiro exatamente, mas filmar ainda mais perto de mim,
nesse continente cultural instalado nas minhas vísceras, como que me vendo pela
nuca, reinstalado como cineasta brasileiro. E, claro, voltei desse mergulho
cheio de dúvidas, com a sensação de que a própria idéia de Brasil como harmonia
construída sobre as ruínas coloniais está hoje se desfazendo por completa, e se
tornando uma ainda mais nova ruína. Com a sensação de que meu lugar criativo,
eu, “branco brasileiro”, mestiço de tantos medos e fantasmas, deveria estar
além do silêncio diante dos dilemas raciais e culturais que me ocupam o
imaginário familiar e pessoal e suas origens ibéricas, ameríndias e africanas.
Porque pensar qualquer construção, ou reconstrução de um sentido de comunidade
que possa enfrentar o desmonte conservador e extremista no poder agora, vamos
ter de encarar de forma nova a equação da nossa antropofagia cultural para além
das sínteses sonhadas no passado. E esse pensamento novo deverá passar pelo fim
na crença de um futuro paraíso prometido, mas acreditar na potência de um
presente sempre feito da nossa auto-destruição, demolição, numa autofagia
poética urgente e necessária. Talvez um Neo-Tropicalismo possível, uma nova
modernidade almejada que nos tire desse atoleiro conservador, esteja na
construção de uma linguagem multi-idiomática, auto-debochada, sem síntese, e
que não esteja preocupada em se, e nos, salvar”, Bragança
reflete.
O longa tem produção da
carioca Marina Meliande e de Luis Urbano - produtor português de filmes de
diretores como Miguel Gomes e Manoel de Oliveira - e traz no elenco o
protagonismo do jovem Higor Campagnaro acompanhado de nomes como Herson
Capri, Thiago Lacerda, Sophie Charlotte e Tainá Medina, além
de um elenco luso-africano formado por Isabel Zuaa, Lucília Raimundo e Matamba
Joaquim e dos portugueses Catarina Wallenstein, Diogo Dória e Adriano Luz. O
lançamento está previsto para o 2º semestre de 2020.
Sobre o diretor
Felipe Bragança, 39,
nascido no Rio de Janeiro. Foi criado entre o centro histórico da cidade e os
subúrbios da Baixada Fluminense. Desde 2003, se dedica ao cinema, tendo
dirigido filmes apresentados em festivais como Cannes, Locarno, Rotterdam,
Berlinale e Sundance. UM ANIMAL AMARELO é seu 4o longa-metragem, e o segundo em
direção-solo. Já escreveu roteiros para cineastas como Karim Ainouz, Helvécio
Maris e Marina Meliande, com quem mantém a produtora DUAS MARIOLA FILMES no Rio
de Janeiro.
Um Animal Amarelo
Ficha Técnica:
Brasil, Portugal,
Moçambique, 2020, 115 min., Direção: Felipe Bragança, Roteiro: Felipe
Bragança, João Nicolau (colaboração), Produção: Marina Meliande, Luis
Urbano, Fotografia: Glauco Firpo, Elenco: Higor Campagnaro, Isabel Zuaa, Tainá
Medina, Catarina Wallenstein, Matamba Joaquim, Lucília Raimundo, Diogo Dória,
Adriano Luz, Herson Capri, Thiago Lacerda, Sophie Charlotte, Márcio Vito
SINOPSE
Brasil, final de 2017.
Fernando, um falido cineasta brasileiro, cresceu assombrado pelas memórias
violentas de seu avô e assombrado pelo espirito de um homem moçambicano que lhe
prometia riquezas e glória. Acossado pelo estado político e cultural de seu
país, o cineasta mergulha em uma jornada de desventuras e inesperados milagres,
em busca de fantasmas do passado.
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