Livro - "A Cidade Ilhada" de Milton Hatoum


Em seu primeiro livro de contos, o autor de Dois irmãos e Cinzas do Norte conjuga desencontro, exílio, província, fantasma materno - ou simplesmente Manaus, onde tudo nasce e tudo morre no universo literário de Milton Hatoum.

Como disse uma vez o escritor argentino Julio Cortázar, o conto é uma pequena e perfeita esfera verbal que guarda uma única semente a ponto de eclodir. A semente pode ser de qualquer natureza - um lugar, um rosto, um episódio -, contanto que nas mãos hábeis de um bom contista. Desse feitio, justamente, são os contos que Milton Hatoum reuniu em A cidade ilhada: relances da experiência vivida recolhidos em tramas brevíssimas, de dicção enxuta, em que tudo ganha nitidez máxima - e máximo poder de iluminação.

As sementes das histórias de Hatoum não poderiam ser mais diversas: a primeira visita a um bordel em "Varandas da Eva"; uma passagem de Euclides da Cunha em "Uma carta de Bancroft"; a vida de exilados em "Bárbara no inverno" ou "Encontros na península"; o amor platônico por uma inglesinha em "Uma estrangeira da nossa rua".

Com mão discreta e madura, Hatoum trabalha esses fragmentos da memória até que adquiram outro caráter: frutos do acaso e da biografia pessoal, eles afinal se mostram como imagens exemplares do curso de nossos desejos e fracassos.

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